domingo, 11 de dezembro de 2011

Há oito dias caíram as primeiras chuvas outonais. As terras, que já estavam com as regadeiras arrasadas, foram esventradas pelo bico do arado com arrabenhos e voltaram a trocar a tonalidade clara do aspecto que envergavam pela escura que lhe era imposta. Morrinhou dias a fio e o resultado estava á vista. Rebentam por todas elas, como que saindo do ventre que as acolheu, as sementes dos pasteiros (cevada, centeio, tremoços, nabos, etc).
Não se vêm mais que duas três folhitas de erva, erguidas ao alto e unidas na base, como que agradecendo o dom da viuda que consubstanciam.
Há um cheiro quente e agridoce pelas terras. A tristeza da cor escura do tempo contrapõe-se á alegria do verde, vida que surge!
Ouve-se o canto de ritmo inconstante dos pingos da chuva nas telhas do telhado, sentem-se as primeiras agruras do frio que se adivinha, trazido pelo pelo Inverno que a passos largos se aproxima. Estamos á beira do S. Martinho. As pipas foram já convenientemente rolhadas e mantêm, hermético no seu ventre, o precioso liquido das uvas apanhadas e esmagadas sem dó nem piedade, com alegria e a pés, por homens conscientes e responsáveis…
Nas valas, com o leito oportunamente limpo, escorre revolto e envergonhado, o primeiro fio de água rejeitado pelo pó existente nas terras. Tropeça em tudo o que lhe aparece e tenta levar á frente o que frente é capaz de lhe fazer. Ramos de árvorers caídos, ervas secas, tombadas, ficam agora orientadas para jusante e firmemente agarradas ás encostas dos valados das valas por e para onde estão a ser arrastados. De quando em vez, um raio de sol, amedrontado, faz aparecer a sua ingénua alegria e, misturando-se com as finas particulas de água, dá origem a perfeitos arco iris. Mas o tempo está escuro! Adivinha-se nortada da velha…

Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue