terça-feira, 7 de abril de 2015

… casos que na vida se passaram, que o marcaram e teimam em não apagar da sua memória!


… apeteceu-me mandar-te um recado para que te predispusesses a ir a um encontro comigo! Mas os meios e oportunidades que surgiram nunca eram os mais fiáveis e oportunos. Enreguei a considerar seriamente começar a viver este romance à chocha calada, nem sequer com os meus botões me abrindo.
Sonhava contigo todas as noites!
Dava comigo, durante o dia, andando no trabalho que andasse, embebecido e com um pálido sorriso, olhando fixamente a tua imagem, no vazio, sem pestanejar,  como se fosse real e estivesses ali à minha frente.

Por mero acaso e quando menos esperava, mesmo correndo o risco de por outros ser visto, ousei depositar um beijo nas costas da tua mão! Mão que olhaste! Mão que olhaste e retiraste bruscamente da minha e meus lábios! Sorriste franca e timidamente mas… nada disseste! A conversa terminou assim e cada um se dirigiu para o trabalho que andava a fazer, cumprindo a missão que lhe estava destinada. Triste sina…

Aquele abraço que me deste… ninguém ocupa o teu lugar no meu coração! Sinto-me realizado e ao mesmo tempo, meio sem jeito. Só me apetece estar junto a ti. O teu olhar simples, franco, aberto, sincero… a tua forma de falar, de dizer as coisas… a sonoridade jovial das tuas gargalhadas… a melodia com que as palavras fluem da tua boca… como gostaria de decifrar o que na verdade querem dizer quando as pronuncias!

Apetece-me… fugir de ti! Sim! Penso que a todo o momento deixarei de ser livre e abraçarei deliberadamente a mais feroz, recôndita e escura clausura! Se não for correspondido nos sentimentos que por ti nutro abandonarei tudo! Sairei por aí fora, vagabundeando ao Deus dará até que a ferida aberta cicatrize e o projecto sonhado se dissipe no tempo e se esvaia da mente que para ti me puxa!

Sempre que nos encontramos abraçamo-nos de forma espontânea, agradável e desejada. Falamos de nada! Sim, entoamos sons parecidos com palavras, que terão sentido para quem nos rodeia e ouve mas não para nós que as pronunciamos respeitando o tempo de falar um do outo!

Cruzamos olhares, pouco tempo perdendo frente a frente e suave e ligeiramente, voltamos a cabeça! Mas… os olhos ali ficam parados, recusando obter outra imagem que não seja o teu rosto num todo, as tuas faces rosadas, os teus lábios ternurentos, os teus dentes alvos e sempre, mas sempre mesmo, a sonoridade desejada e agradável das tuas gargalhadas!

Os toques fortuitos, mas deliberados nas mãos, tentam transmitir sentimentos, substituindo outras atitudes e frases que ficam por fazer e dizer, quiçá mesmo um beijo fugidio, arfante e desejante de algo mais que pura e sincera amizade! Nascemos no mesmo tempo, fomos criados quase sem nos conhecermos, vivemos gozando os prazeres possíveis e, enfrentando deslizes, tememos o futuro! Inesperadamente, em momento proporcionado pelo destino, ficámos frente a frente! Nada fomos capazes de dizer! Olhámo-nos francamente uns segundos que pareceram uma eternidade que desapareceu inesperada e mais rapidamente do que apareceu! Fugiste para longe. Colocaram entre nós uma imensa estrema separadora, cheia de água salgada…

Quis o destino que o mal de alguns viesse fazer com que um ténue laço se mantivesse à tona da água desse imenso vau que nos separava e a que chamam Atlântico!

Naquela carta que escreveste, a pedido de teu pai e dirigida ao amigo Manel, atreveste-te a colocar, como final de tudo e antes de fechar o envelope, “Manuel, se quiseres podes escrever-me”, sabias já de antemão que era eu quem lia e escrevia as cartas a muita gente que não sabia ler nem escrever e de quem seus entes queridos, como tu, se tinham ausentado do torrão natalício…

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