Ainda não tinham dado as seis horas e já o
Manel se encontrava a pé. Deu comer a toda a gadagem, carregou uma gabela de
lenha para o borralho e depois de atear o fogo à panela de ferro de três
pernas, cheia de água, pôs o lume ao forno. Levaria umas boas duas horas a
aquecer de forma a assar convenientemente o leitão. Foi á casa da adega e
trouxe o animal para cima da mesa da cozinha. Já tinha arranjado uma vara de
loureiro, direitinha e resistente, para espetar no porco e fazê-lo rodar dentro
do forno.
Observou convenientemente o animal por todo
o corpo, não fosse alguma varejadeira ter deixado ali a sua postura, e, metendo
a mão pela abertura que fizera para tirara as tripas de dentro da barriga,
arrancou as banhas que ali tinham ficado. Com a navalha fez uns cortes de
dentro para fora, sem cortar a pele no pescoço, espáduas das mão e ancas para
que o tempero ali acudisse e o chícharo ficasse mais gostoso.
Agora era só enfiar-lhe a vara pelo meio
das pernas, onde outrora fora o cu, e fazê-la sair na boca! Assim fez. Espetou
depois um prego a meio do focinho do porquito ficando este cravado na vara de
loureiro. Estava seguro na cabeça. Puxando pelas pernas, esticou-o e amarrou à
vara com um arame. Estava esticadinho que era um primor.
Arrancou do campo de alhos, preso no pião
da chaminé, algumas cabeças que desfez em dentes e que depois descascou. Pediu
uma bacia pequena, à Maria, que prontamente lha colocou junto ao porco, e
começou a moer os dentes de alho com a ponta de um rachão. Depois dos alhos bem
moídos, juntou-lhe a pimenta, o sal e a manteiga de porco. Era só mexer bem e
colocar aquela massa dentro do porquito na barriga e no corte do pescoço.
Enfiou depois uma agulha de coser sacos com fio de vela e coseu o corte da
barrida e o do pescoço de modo a que a massa ali colocada não escorresse para
fora.
Hábil cirurgião seria incapaz de fazer
trabalho mais perfeito!
Sem comentários:
Enviar um comentário