terça-feira, 13 de dezembro de 2016

E trabalho? Perguntas bem.

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E trabalho? Perguntas bem.
Tanto eu como a Maria sabíamos o que era o trabalho dos e nos campos e foi por aí que nos orientámos. Começámos a nossa vida com treze contos de reis e mais cinco notas. Olha a fortuna que nos deram no dia do casamento! No nosso dinheiro de agora serão aí uns sessenta e cinco euros, mais coisa menos coisa. Para angariar mais algum, dei em trabalhar de ajudante de mestre. Ganhava oitenta mil réis por dia. Era bom dinheiro e trabalhava de sol a sol. No fim desse trabalho, para ajudar a Maria, lá agarrava a gadanha, amarrava o leva tudo á bicicleta e rumava aos foros apanhar uns feixes de erva para ela dar as bezerras no dia seguinte. O que eu sofri a puxar aquele leva tudo! Não havia caminhos como agora, não. Eram carros de gado, areia solta e caminhos de terra batida. Enquanto dava para andar de bicicleta, andava. Quando deixava de dar, largava a bicicleta, agarrava no leva tudo e ala que se faz tarde. Olha que eu tinha que subir uma baleira de areia branca a puxar o carro, (ainda lá está o sítio pois a areia já foi vendida e retirada!) descê-la, passar a corrente dos fojos e então ir para a terra. Aquilo é que eram tempos! E a garra com que eu lhe dava para acabar depressa o trabalho e ir para junto da Maria?! Nem queiras saber. Já com a carrada feita, punha uma corda amarrada ao carrito, fazia-lhe uma alça que passava nos ombros e puxava que nem um jumento. O que eu sofri nesses dias até chegar a casa com a carrada! Mas se tiveres pachorra, contar-te-ei pormenores deste caso…
Olha lá, e que tal ficarmos por aqui hoje e irmos beber uma pinguita? Tenho ali um parreirol feito ainda por mim com os cachos do quintal e da latada da cozinha que é de beber e chorar por mais. Que me dizes?...

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