...
E trabalho? Perguntas bem.
Tanto eu como a Maria sabíamos o que era o
trabalho dos e nos campos e foi por aí que nos orientámos. Começámos a nossa
vida com treze contos de reis e mais cinco notas. Olha a fortuna que nos deram
no dia do casamento! No nosso dinheiro de agora serão aí uns sessenta e cinco
euros, mais coisa menos coisa. Para angariar mais algum, dei em trabalhar de
ajudante de mestre. Ganhava oitenta mil réis por dia. Era bom dinheiro e
trabalhava de sol a sol. No fim desse trabalho, para ajudar a Maria, lá
agarrava a gadanha, amarrava o leva tudo á bicicleta e rumava aos foros apanhar
uns feixes de erva para ela dar as bezerras no dia seguinte. O que eu sofri a
puxar aquele leva tudo! Não havia caminhos como agora, não. Eram carros de
gado, areia solta e caminhos de terra batida. Enquanto dava para andar de
bicicleta, andava. Quando deixava de dar, largava a bicicleta, agarrava no leva
tudo e ala que se faz tarde. Olha que eu tinha que subir uma baleira de areia
branca a puxar o carro, (ainda lá está o sítio pois a areia já foi vendida e
retirada!) descê-la, passar a corrente dos fojos e então ir para a terra. Aquilo
é que eram tempos! E a garra com que eu lhe dava para acabar depressa o
trabalho e ir para junto da Maria?! Nem queiras saber. Já com a carrada feita,
punha uma corda amarrada ao carrito, fazia-lhe uma alça que passava nos ombros
e puxava que nem um jumento. O que eu sofri nesses dias até chegar a casa com a
carrada! Mas se tiveres pachorra, contar-te-ei pormenores deste caso…
Olha lá, e que tal ficarmos por aqui hoje e
irmos beber uma pinguita? Tenho ali um parreirol feito ainda por mim com os
cachos do quintal e da latada da cozinha que é de beber e chorar por mais. Que
me dizes?...
…
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