Encontrei-o cabisbaixo,
sentado na soleira da porta da Casa da Eira, com o chapéu nas mãos e afogueado com
o calor que se fazia sentir.
Ti Manel fazia hoje os 93.
Mas nem por isso se escusou a falar comigo daquilo em que estava a cogitar.
Depois dos
cumprimentos da praxe, um bacalhau bem apertado, sai-se com esta:
…e a vida vai-nos
presenteando com tudo e até com o que menos se espera. Ás vezes não contamos com
ela, nem nela pensamos, e somos forçados a ultrapassar os obstáculos que nos
surgem pela frente.
Chego a pensar se
serão na verdade obstáculos ou se não serão antes estímulos para, com mais
garra, ir mais além, no mesmo rumo, tendo em vista o mesmo objetivo.
A partir duma certa
idade parece que passamos a andar em piloto automático, sem tempo para correção
de rotas, acomodados com os resultados do que vai surgindo no dia a dia e…
deixamos de estipular novos objetivos, aceitar novos desafios, aventurar-nos
noutros rumos, numa palavra acomodamo-nos!
E os anos vão
passando.
Cada doze meses aumenta
um ano na nossa presença terrena!
A determinada altura,
com o diminuir da velocidade de cruzeiro em que temos andado, mas sem abandonar
o piloto automático, apercebemo-nos de “névoas” que vão surgindo do nada, mas
que nos começam a incomodar e obrigam a “agarrar” de novo nos comandos, recuar,
repensar, corrigir direções, procurar causas e justificações, e verificamos que
as oportunidades foram surgindo, que as deixámos passar ao lado distraídos e
ocupados com outros interesses, quiçá, de menor valor!
A saúde valorizamo-la
quando o revés da doença se apodera de nós! Da alegria sentimos falta quando a
tristeza nos inunda e por vezes nos afunda em profunda solidão.
Chegamos à conclusão
que afinal não temos família!
Pertencemos a um
grupo restrito de pessoas, que se protegem e apoiam até determinada altura. Mas
lá vem o momento em que tomamos a noção da realidade e constatamos que, afinal,
quando dizemos que queremos muito aos outros, mais não estamos do que a querer
que eles sigam as nossas orientações. Esquecemos a individualidade de cada um
e, por vezes, até o respeito que cada um nos merece nas decisões que vai tomando
ao longo da sua vida, quando “liga o seu piloto automático”!
Gastamos muito tempo
a procurar o bem que nos rodeia e que não enxergamos e não valorizamos os momentos
que vão passando, certinhos, contínuos, constantes.
Por falar nisso, anda
cá comigo, vamos ali à Casa da Arrumação provar um parreirol à minha saúde e à
nossa amizade!...
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