domingo, 22 de maio de 2022

Andamos muito tempo em piloto automático...

 


Encontrei-o cabisbaixo, sentado na soleira da porta da Casa da Eira, com o chapéu nas mãos e afogueado com o calor que se fazia sentir.


Ti Manel fazia hoje os 93. 

Mas nem por isso se escusou a falar comigo daquilo em que estava a cogitar.

Depois dos cumprimentos da praxe, um bacalhau bem apertado, sai-se com esta:

…e a vida vai-nos presenteando com tudo e até com o que menos se espera. Ás vezes não contamos com ela, nem nela pensamos, e somos forçados a ultrapassar os obstáculos que nos surgem pela frente.

Chego a pensar se serão na verdade obstáculos ou se não serão antes estímulos para, com mais garra, ir mais além, no mesmo rumo, tendo em vista o mesmo objetivo.

A partir duma certa idade parece que passamos a andar em piloto automático, sem tempo para correção de rotas, acomodados com os resultados do que vai surgindo no dia a dia e… deixamos de estipular novos objetivos, aceitar novos desafios, aventurar-nos noutros rumos, numa palavra acomodamo-nos!

E os anos vão passando.

Cada doze meses aumenta um ano na nossa presença terrena!

A determinada altura, com o diminuir da velocidade de cruzeiro em que temos andado, mas sem abandonar o piloto automático, apercebemo-nos de “névoas” que vão surgindo do nada, mas que nos começam a incomodar e obrigam a “agarrar” de novo nos comandos, recuar, repensar, corrigir direções, procurar causas e justificações, e verificamos que as oportunidades foram surgindo, que as deixámos passar ao lado distraídos e ocupados com outros interesses, quiçá, de menor valor!

A saúde valorizamo-la quando o revés da doença se apodera de nós! Da alegria sentimos falta quando a tristeza nos inunda e por vezes nos afunda em profunda solidão.

Chegamos à conclusão que afinal não temos família!

Pertencemos a um grupo restrito de pessoas, que se protegem e apoiam até determinada altura. Mas lá vem o momento em que tomamos a noção da realidade e constatamos que, afinal, quando dizemos que queremos muito aos outros, mais não estamos do que a querer que eles sigam as nossas orientações. Esquecemos a individualidade de cada um e, por vezes, até o respeito que cada um nos merece nas decisões que vai tomando ao longo da sua vida, quando “liga o seu piloto automático”!

Gastamos muito tempo a procurar o bem que nos rodeia e que não enxergamos e não valorizamos os momentos que vão passando, certinhos, contínuos, constantes.

Por falar nisso, anda cá comigo, vamos ali à Casa da Arrumação provar um parreirol à minha saúde e à nossa amizade!... 

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