quinta-feira, 7 de agosto de 2025

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Também foi homem que trabalhava de sol a sol nas “ Olarias “ do Carvalho (pertença do ti Aurélio Redondo, do Ti Arménio Rocha, do Ti João do Carvalho, do Ti Albano do Russo,...) locais onde se faziam os adobes (blocos maciços, feitos de uma mistura de seixos rolados, de tamanhos diferentes (areia grossa e gorda) com cal viva trazida por “ carreiros” (como o Ti Amândio Oliveira, numa junta de bois) do Barracão, local onde existiam os fornos que “ coziam” a dita cal, também denominada de “ cal flor”.

Eram usados para a construção da casa Gandaresa, de muros de vedação, de poços (com balseiro ou só com cambota).

Existem ainda vestígios dos “ poços” (vulgar e correntemente designados por covas de adobes) donde se extraía a areia em causa, “ à formiga” (Trabalho coordenado, feito quase sempre por homens, era duro, estes posicionavam-se por patamares, um ou dois em cada patamar, com níveis diferentes de altura, quase sempre em linha ascendente, começando aqueles que andavam no fundo da cova ou poço a “pazar” a areia para o patamar mais próximo, que se situava mais perto do fundo e deste patamar outro onde outros homens a passavam para o patamar seguinte, e assim sucessivamente até atingir a superfície. Chegavam a retirar a areia de profundidades da ordem dos seis a oito metros, em poços com diâmetro de cerca de trinta palmos (entre oito a dez metros de diâmetro)!

Chegou a vestir calção de cotim até ao joelho com bolso atrás, camisa de riscado, chapéu de palha, aba larga, lenço tabaqueiro ao pescoço (com o qual limpava o suor, mais que muito atendendo ao esforço e condições e local de trabalho:- “ óculos de sol”) e quando lhe calhava ter de ir queimar a cal e misturá-la com a areia, calçava botas feitas de câmaras de ar de rodas de camioneta, para proteger os pés e pernas dos efeitos da cal viva ou flor.

Recorda com muita lucidez as formas dos adobes (casa, muro, três quartas ou galgas) e a inseparável enxada de cem mil réis, além do carro de mão e da padiola para transporte da massa. A cada trabalhador, o patrão entregava um carro de mão, instrumento que ele tinha que ir mantendo nas melhores condições para dar o máximo rendimento, já que tinha no mínimo que acompanhar os colegas, não podendo deixar a sua “esteira” de adobes ficar atrás dos demais no final do dia. Conta até que usava de artimanhas para tentar ficar sempre com mais alguma massa no fim do dia: - era dos primeiros a tirar a massa, tirando pouca, para acabar de gastar a carga mais cedo e aí, sim, na segunda e terceiras voltas, carregar o carro “á molhelha” para poder render e ter de amassar menos que os outros. Mesmo no trabalho, já havia manhas e manhas!

Tanto a meio da manhã como a meio da tarde, os homens paravam alguns momentos para acomodar o estômago, comer um naco de broa e um rabo de sardinha assada, muitas vezes gelada, mas que sabia que era um primor.

A broa era cozida em casa, uma vez por semana, fornada que tinha que dar para os sete dias, não podendo ninguém da casa ser “desarrendado”.

Os moleiros ou moços dos donos dos moinhos, homem ou mulher, recolhiam o milho de casa em casa, levavam-no para o moinho onde era transformado em farinha pelas mós, movidas pela força do vento ou da água. Faziam entrega da farinha correspondente na semana seguinte, depois de ficar com a maquia, recolhendo novo taleigo de milho. Normalmente os sacos possuíam marcas próprias de cada proprietário, que eram do conhecimento do moleiro e/ou da moleira, sendo muito raro ocorrer a troca dos taleigos.

Utilizavam para o transporte dos sacos, um burro ou uma besta, com albarda, mais tarde um carro de boi ou vaca.

Tanto quanto há conhecimento, havia moinhos de vento e de água, nas Cabeças Verdes, pertencente ao ti Artur Capeloa e no Seixo, próximo do quintal de Joaquim Oliveira, de vento, pertencente ao ti Parrano (?), aos “Olívios” e, na Vala dos Almeidas, lá para os lados dos Sobrados, da Ti Luz do Carlos.

Neste trabalho, o moleiro vestia calça e colete de cotim, camisa de riscado, gorra ou bóina, cinta preta e lenço tabaqueiro ao pescoço, calçando botas de atanado, isto inicialmente, pois mais tarde, para poupar a roupa, usava calça e camisa de linho, branco, a farinha não se via tanto e não era necessário lavar tanto a roupa, poupando-se em tempo, sabão e no próprio tecido que durava muito mais!

Do traje fazia parte também um saco de linho para transporte da taleigada ou arrumo da maquia.

Instrumento que nunca abandonava o moinho era o picão para avivar as moentes e jazentes.

Se era criada ou moleira, vestia saia de fioco, avental de riscado, blusa de gorgorina, cinta preta, lenço de cachené e chapéu Gandarês, calçando tamancos, sem meias.

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