quarta-feira, 8 de outubro de 2025

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Passou das boas o nosso ti Manel! Além de alfaiate e lavrador, num rasgo de ousadia e devido à necessidade de angariação de mais uns tostões para sustento da prole, deixou as terras e durante a época da faina, irmanou- se na pesca da sardinha e carapau nas Xávegas da Praia de Mira. O barco (em terra um monstro, no mar, uma casca de nós franzina!) com quatro remos, saía para o mar com quarenta homens, arrastado por quatro juntas de bois. O restante pessoal da companha, pessoal de terra, enorme quantidade de homens, músculos das pernas retesos, empurrando e dando a sua ajuda para a maré exata, no momento certo que a onda dá, bois com água pelo peito, mansos, comungando a mesma paixão dos homens, associando- se ás suas dores e necessidades, deixando uma ponta da corda, (qual cordão umbilical que os une á terra mãe, mesmo quando se encontram em pleno ventre do oceano bravio) puxarem e empurrarem, fazendo deslizar o barco sobre os rolos de madeira, assentes sobre varas do mesmo material, para impedir que o barco se enterre nas areias soltas e torne mais difícil o deslize, até que os remos comecem a tomar conta do barco e, de forma rápida e segura, passem além da quebra da onda, a chamada “cabeça” local de maior perigo tanto no sair, como no arribar. Já no alto mar, lançam o saco da rede, em nome de Deus, completam o cerco e, sempre largando a manga e posteriormente o varal da corda, regressa a terra, entregando-a aos homens que ali se encontram e lhe atrelam de imediato as juntas de Bois, doze juntas por cada Companha, (grupo de homens necessários para, tanto em terra como no mar, unidos, desempenharem as funções inerentes á pesca tradicional apelidada de Arte de Xávega), seis em cada corda, que, dolente, contínua e firmemente, arrastam a rede com um andamento certo.

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