terça-feira, 8 de julho de 2025

 


 ... está o milho com altura bastante e mesmo a pedir para ser desbastado e “achegado” e abertas as regadeiras, pois o verão já se adivinha e, desta terra, terá que sair o sustento para um ano de toda a casa. Uma das caixas leva sessenta alqueires e a outra, embora mais pequena, precisa de quarenta e oito para ficar cheia. O milho está amarelito, queira Deus que não apanhe arejo e tudo se há-de arranjar, pois logo na primeira rega vamos “botar-lhe o buano” apropriado e ele dará o salto. Mas, vamos lá abrir as regadeiras.

Primeiro e á frente de todos, arranca alguém a desbastar os pés de milho: torna-se além de útil, necessário fazer uma escolha dos melhores pés de milho, deixá-los ficar e protegê-los, arrancando os mais próximos para que não impeçam ou dificultem o seu crescimento. Assim cada pé de milho terá as condições próximas do ideal para produzir o máximo de espigas e o melhor grão. Temos também que arrancar as ervas daninhas que se encontram próximo do pé de milho: erva vime, castanhol, figueiras do inferno, etc. Nada pode dificultar ou impedir o seu livre, espontâneo e desejado crescimento. De imediato, vamos deitar o “buano” de maneira que possa ser tapado pela terra que vai ser movimentada no “achegar o milho”.
No trabalho de realizar as regadeiras, é preciso ter cuidado para que a enxada nem corte as raízes do milho, nem o moleste demasiado, colocando-lhe, no entanto, a terra junto do pé para lhe garantir mais segurança no crescimento e depois suportar melhor quer os ventos, quer o peso da palha e das espigas, que se espera e deseja que sejam muitas e graúdas…
Entre carreira e carreira de milho, passará a pessoa que, de enxada nas mãos dando-lhe uma ligeira inclinação alternadamente para um lado e para o outro, andando “ás arrecuas”, vai puxando a terra de modo a fazer um rego largo e relativamente fundo, movimentando as areias e, desta forma, arrancando as ervas daninhas que nasceram entre as carreiras dos pés de milho. Os cômoros que inicialmente foram feitos pelo arado quando se fizeram os regos para a sementeira, passam agora a ser os sítios por onde se vai encaminhar a água para a rega do milho: as regadeiras.
Cada regadeira tem entre cinco a seis metros de comprimento. A um conjunto de regadeiras com este comprimento e na totalidade da largura da terra semeada dá-se o nome de um través.
Sensivelmente a meio da largura terra, far-se-á uma regadeira com valados mais altos e reforçados, desde o poço e até ao fim da terra de milho. (bastas são as vezes que esta regadeira serve também para encaminhar a água que, tirada do mesmo poço e pelo mesmo modo, irá regar outras terras de milho situadas no topo da terra onde o poço se situa) Vai designar-se de “cavalo” e por ela escorrerá a água saída da “almace”, que por sua vez a recebe dos alcatruzes, parte integrante do engenho que, movido pelo andamento constante de um animal bovino, de trabalho, boi ou vaca, ligado a este pelo cambão, ali roda horas a fio, dias sem conta, com os alcatruzes numa volta infindável, de baixa, mergulha, volta e trás, constantemente água para a almace e desta para o tubo de passagem, saindo depois para o inicio do cavalo onde, mãos e pés de criança desfazem “lavam as agulhas e mato, impregnados com dejetos dos bois e vacas, esterco dos currais” ou barro, para que o cavalo nas suas paredes ganhe um lodo fixo que impeça ou dificulte a penetração da água e consequente perda desta no terreno. Quantas vezes imediatamente depois de sair da escola, se agarrava no “cesto e nas trolhas” e se ia no encalço dos rodados de carros de bois ou de vacas na esperança de encontrar “bosteiras” para usar na rega ou acumular sobre montes de agulha e produzir fertilizante ecológico, assim se chama… era a empreitada deixadas às crianças: tens de juntar duas ou três cestadas, por dia!...

quarta-feira, 2 de julho de 2025

 

Houve tempo para embarcar numa viagem, curta, ao passado! Andei por Vale Matança, Varrozelha, Murta e por Beja, integrando os Ranchos do Ti Domingos Lopes e do Ti Joaquim Artilheiro, do Ti João Maria Doca (Estive com eles na roça e arrozais do José Marcelino até que lhes faltou a farinha!) fui ás olarias, e por lá vi andar o Ti Aurélio Redondo, o Ti Arménio Rocha, o Ti Albano do Russo, o Ti João do Carvalho… Fui depois até ao Judeu dos Olivios no Alto das Fontes e dei por mim em amena cavaqueira com o Ti Manel, mesmo junto á réplica do Judeu colocado na Rua dos Moliceiros, logo ali, ao lado do Centro Social Paroquial e ao Parque de Merendas de S. João.

Que gratas imagens guardo da euforia da “entronização” do judeu, do seu transporte desde o local do fabrico, da construção em adobe da sua base, do bonito que ele ali ficou e do ar de graça que davam as suas velas enfunadas pelo vento que as fazia mover quando soprava dos lados da Barra!

Que orgulho manifestava o Ti Daniel olhando para a obra feita e que descrições fazia daquilo que se recordava dos tempos de então. A que amigáveis discussões assisti, contendas entre familiares, acerca da necessidade de ver corrigidos alguns pormenores no feitio do moinho em causa. As partes lá teriam a sua razão, mas falavam de coisas diferentes … mas que era bonito, lá isso era. Por fora, além de moinho (sim porque no seu interior nada havia!) era para quem o observava um veículo que nos transportava no tempo e permitia uma volta pelos lugares mais próximos do Seixo, em romaria aos sítios onde outrora estiveram em actividade moinhos (de água e de vento) e azenhas. Para aqueles eram carregados os taleigos de milho que eram recuperados na Sexta-feira á noite ou no sábado de manhãzinha, tendo em vista a fornada que se faria ao sábado á noite e que teria que dar para a semana inteira. Mais recentemente já assistíamos á recolha dos taleigos, porta a porta, em carro puxado por um boi, por gentes que moíam nos moinhos do Casal de S Tomé ou outros existentes ao longo da Veia Real (Moinhos do Arraial, Moinhos da Areia, Moinhos da Lagoa, Moinhos do Praina, Moinhos da Fazendeira…), curso de água que, com origem nos Olhos da Fervença, encaminhava aquele líquido até ao nosso braço da Ria de Aveiro. Chegados ao Moinho, descarregavam os sacos (taleigos) com o milho a um canto do moinho, e voltavam a carregar o carro do boi com os taleigos das pessoas que moravam na volta que iriam dar no dia seguinte, descontada que estava a maquia, para pagamento do seu trabalho. E o ritmo diário era sempre o mesmo, alterando simplesmente os locais de passagem para servir um maior número de interessados.

“Mas voltemos ao nosso Judeu. A força do vento e os efeitos do tempo que não pára, vão roibando a resistência aos materiais que corporizam o dito monumento e fazendo com ele aparente estar velho. Por duas vezes já os seus efeitos se fizeram sentir fortemente. Da primeira vez, as velas rotas e abandonadas, foram substituídas e recolocadas e alguns dias houve em que a vida voltou àquele espaço com o vento que ali se fez sentir sobre elas, mesmo girando em sentido inverso àquele que deveria girar (calhando união dos baraços á espia e madeira contrária ao que deveria ser, digo eu, leigo na matéria!). Mais recentemente, estou em crer que pelos mesmos motivos e com a mesma origem (as forças da natureza e o tempo que corre…) apareceu partido o eixo, suporte das velas, e caído junto ao corpo do moinho, qual membro decepado dum corpo indefeso e sem proteção, ali ficando durante alguns dias até que alguém o retirou e fez transportar para local onde vai, concerteza, ser recuperado e posteriormente reposto. Aproveitando a acção contínua e incontida dos elementos da natureza, alguém, mesmo por cima da fechadura, e dado que a madeira da porta é pouco resistente, abriu um óculo, para observação do interior do moinho. Chegou a falar-se em utilizar aquele espaço para efectivar uma exposição fotográfica relacionada com o ciclo do milho, do trigo, do centeio, da cevada… e tantos outros cereais outrora cultivados nos terrenos agrícolas que circundam o Seixo, pelas suas gentes … (Enganei-me! o Judeu, foi-se!)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

 

MATANÇA DO PORCO.


A matança do porco – pretexto para a reunião da família, dos amigos e vizinhos e motivo para os repastos conjuntos, onde a fartura da carne não impede o vinho de ser rei.

A matança do porco pode ir até inícios de Fevereiro – começa no S. Martinho (11 de novembro!), sempre de madrugada – beneficiando do tempo mais frio e a constituir, na grande parte das aldeias portuguesas, uma das mais tradicionais celebrações familiares rurais.

Ocasião festiva e acontecimento que se reveste de particular importância do ponto de vista económico, uma vez que as carnes, os enchidos, o toucinho e a banha representam alimentos fundamentais da família ao longo do ano, a matança do porco encontra-se associada a algumas maneiras e rituais mantidos até hoje no seio da comunidade rural.

Em certas localidades, antes do porco cevado ser agarrado, continua a observar-se o hábito, dos donos do porco, oferecerem a quem toma parte na matança figos secos, vinho e aguardente.

Laçado por uma perna, ainda no curral, o animal é trazido, em alta gritaria e com esforço dos “seus algozes” até junto do carro da vaca ou dos bois, previamente preparado sem taipais e só com um fogueiro num dos cantos do arrecavém.

Por vezes e dado o peso do animal e a eventual pouca força dos presentes, só homens (as mulheres ocupavam-se das lides da cozinha e só apareciam para trabalhar quando o animal estivesse já morto, chamuscado, lavado e pendurado, pronto a ser esventrado de tripas) era usada uma panca que, passando por baixo da barriga do porco e assentando no varal do carro/carroça) manobrada com destreza por um forte e afoito, de repente, dava a volta ao porco e este aparecia em cima do carro, sendo então necessário saltar-lhe para riba para que não se levantasse e pudesse ser colocado, com as pernas para o arrecavém, do carro, amarrado ao fogueiro, e o focinho amarrado com outra corda a um dos varais.

A mão de baixo pertencia ao matador segurá-la e coloca-la de maneira a que não falhasse a facada. A de cima era segura por um homem, fero e rijo, que se colocava por detrás do porco, lhe dobrava a outra mão e o impedia de se movimentar, de modo a poder ser sangrado.

O sangue do animal, o primeiro que sai do corte da faca, foi recolhido num alguidar de barro vermelho e retirado para local seguro e sossegado para coalhar, não sem que antes disso o matador lhe fizesse um corte em cruz.

Todo o restante, o que sai ainda até que o porco deixe de ter vida, é recolhido noutra bacia ou tacho a que se adicionou já cebola, sal, alho, vinagre e, ou vinho e vai-se mexendo sempre com uma colher de pau para não coalhar, só parando esta operação quando o sangue se encontra completamente frio.

Porco morto, nova pinga prá goela!

Depois é jogado abaixo do carro, mesmo na estrumeira, dando-se então início ao chamuscar do bicho.

São carregadas agulhas secas e enxutas para perto do porco. Foi já feita uma tenaz com duas varas de pinheiro para movimentar as mãos cheias de agulhas, acesas, que percorrerão todo o corpo do animal queimando-lhe todos os pelos. Já trabalha a pá do forno raspando a cinza e negro que se vai acumulando para ver se é necessário aproximar mais fogo ou seguir em frente.

Dois homens encarregam-se de queimar e arrancar as unhas ás patas do porco.

Todo chamuscado dum dos Lados, é hora de virar!

Mas, se há uns que querem virar, outros há que não deixam e só vira depois de haver nova rodada de mata-bicho!

Foram trazidas duas telhas salgadeiras para colocar, uma sobre a mão outra sobre a perna, que fica por baixo, para que o fogo as não queime.

E recomeça o trabalho da chamusca!

Chamusca efetuada, é arranjado um espaço mais limpo alguma coisa para colocar o porco e o lavar. É preciso uma telha salgadeira, uns torrões de adobes e sal. Tudo isto para lavar o corpo, as patas e as orelhas do animal.

Animal lavado convenientemente é colocado de pernas e mãos para o ar, é descoberto o tendão nas patas traseiras, junto ao joelho, e por ali é enfiado o chambaril.

As patas são mantidas abertas, separadas uma da outra, para facilitar o trabalho que vem a seguir.

Organiza-se depois o cortejo em direção à cozinha ou à casa da arrumação, com o porco sobre sacos e pegando os homens uns de cada lado para atrás da porta, onde foi   passada uma corda, próximo da parede, pelo barrote, para assim pendurar o porco.

Pendurado pelo «chambaril» (um pau curvo e duro) que se lhe enfiava nos «jarretes», parte posterior da articulação do joelho das pernas traseiras do animal), na casa de arrumação ou na cozinha do lume, de cabeça para baixo, tarefa nem sempre fácil a que alguns dos presentes ainda se opunham gritando bem alto que «se o mata bicho não vem, o porco não sobe!

Nessa posição é aberto pela barriga, um corte de cada lado sendo-lhe retirada em primeiro lugar a tira de gordura, peituga e carne da facada, com febra no interior que vai de entre as pernas traseiras até à parte inferior do pescoço e cobertura da queixada. De seguida são retiradas as tripas (vísceras e intestinos) (miudezas) que são entregues às mulheres e colocadas sobre uma mesa onde o matador e estas se vão encarregar de separar as tripas (intestinos) retirando-lhe o máximo de gorduras para depois serem levadas à vala, com água corrente, para as lavar convenientemente virar o interior para fora e cortar em tamanhos que permitam, depois de tratadas, ser cheias com carne (chouriças) ou com sangue e as gorduras arrancadas das tripas.

O toucinho ou entremeada encontra-se agarrado, de lado, às costelas e aos lombos. Assim arranjado o porco, este é borrifado com vinagre, por causa das moscas e embrulhado com lençóis velhos, ficando assim até ao outro dia de manhãzinha.

O porco fica assim pendurado para escorrer e arrefecer.

De manhãzinha, estende-se uma coberta de trapos ou sacos de sisal sobre o chão da divisão onde o porco ficou pendurado altura em que a carne é «desmanchada», separando-se as «peças» destinadas ao fumeiro (chouriças e morcelas) e as que vão ser guardadas no caixão (salgadeira!), conservadas no sal.

As primeiras a sair eram o toucinho, carne branca, sem febra, com a altura de quatro ou cinco dedos (ou mais!) que serviriam para adubar as sopas ou fazer quinhões para molhar as batatas abertas ao meio…

Lembrar ainda que, algumas peças do porco, as mais gulapeiras, já não chegavam a entrar no caixão, eram dadas ao Sr. Dr., ao Sr. Prior, a algum vizinho mais chegado…e assim começava o porco a desaparecer do caixão sem nunca lá ter entrado!

Ah, o Stº António também tinha um quinhão: como era o protetor dos animais, calhava-lhe sempre um pezunhito…

 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

 

…pouco passava das seis horas e meia da manhã e já se ouvia o baque surdo que saía pelo telhado do espaço daquela casa, que tudo indicava que fosse a cozinha. Sabia e conheci muito bem quem lá vivia, mas nunca me atrevi a ir “bisbilhotar” a origem daquele ruído e efeitos que se pretendiam.

Nesse dia, acordei um pouco mais cedo e fiquei a fazer tempo para ouvir os baques que tanto ansiava,

Pouco tardou.

Pelas frinchas das telhas marselha que cobriam o espaço, colocadas diretamente sobre as ripas e sem qualquer forro, surgiu uma ténue luz, muito amarelada, tremeluzindo e dando vida ao espaço em causa.

Sai de minha casa, percorri o caminho que me separava da casa para onde me dirigia e, sem anúncios, abri o portão, que normalmente estava destrancado, para permitir a entrada franca a todo e qualquer um que ali se dirigisse.

Estava aberta a porta da cozinha, situada ao lado do curral das vacas, existindo entre as duas divisões, um telheiro que albergava o forno onde se cozia a broa, todos os sábados.

E lá estava ele! Sentado num banquito de madeira, tamancos calçados nos pés, pernas abertas, e sobre a grelha de ferro uma panela de folha, para cozinhar aos porcos e uma cafeteira com água para ferver e fazer o café.

Sob a grelha ardia já uma pinha e, Ti Manel, com uma enchó na mão direita e um rachão na mão esquerda, ia dando machadadas naquele para fazer aparas, transformando-o em pedaços mais pequenos e atiçar mais rapidamente a fogueira, debaixo da panela e da cafeteira. A Maria já andava pelos currais a tratar do gado miúdo, aguardando que ele a chamasse para tomar o café. Tinha á sua beira também um grafado de trancas e gravetos e, encostado ao canto do borralho, uma gabela de agulhas para acender o lume e o forno, mais logo à tarde para cozer a broa para a semana.

Fogueira bem acesa, água colocada na cafeteira, colocou-a junto à panela que se encontrava já cheia de batatas, couves, abóbora cortada aos bocados e água, afim de que esta recebesse também o calor necessário para que a água fervesse e pudesse juntar-lhe uma colherada de pó, de café do bom, que mal caía na água, logo exalava um cheirinho que se espalhava por toda a casa.

Chamou pela Maria, que já tinha feito as camas ao gado graúdo e tinha-lhe posto na “majadoira” um grafado de “carapitas”, a que as vacas e a bezerra se atiraram logo.

Levou a lavagem para a pia dos porcos, pôs-lhe umas engaçadas de agulhas nas camas, cortou-lhe meia dúzia de beterrabas, colocando-lhas na pia, e dirigiu-se à casa da arrumação donde tirou meio crivo de milho da caixa, e levou para a cerca das galinhas.

Aproveitou os sete ovos que estavam no ninheiro e foi ter com o seu homem para tomar o café e chamar os filhos para que se arranjassem e fossem para a escola.

A Maria iria com o taleigo á cabeça, cerca de uma arroba de milho amarelo, ao moinho do ti Artur, afim de o trocar por fina farinha e assim poderem cozer a broa, à noite…

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 

Os Sinais são avisos...quem os despreza hoje poderá chorar amanhã.

(Quando virem um ramo de figueira tornar- se verdejante e as folhas a aparecerem, sabei que o verão está próximo...)

É assim que hoje somos, pela Palavra, alertados a estarmos atentos, porque por eles, percebemos e sentimos a presença de Deus na nossa vida.

Sabemos que nada deste mundo, e ele próprio, é eterno.

Sabemos também que não está nas nossas mãos o dia, a hora ou modo do nosso fim, bem como o fim do mundo.

Apocalipse, não significa o fim, na sua origem grega queria dizer mudança, alteração substancial.

É para essa alteração que devemos estar sempre preparados.

A linguagem do Evangelho é, apenas e só para nos lembrar que Deus continua e continuará próximo de nós e que a s Sua Palavra não perde valor.

Aconteceu recentemente (comemorado?!) o Vlll Dia dos Pobres.

Limito-me somente a reproduzir palavras do Papa Francisco, na sua Mensagem:

“A violência causada pelas guerras mostra claramente quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis.

Quantos novos pobres produz esta má política das Armas, quantas vítimas inocentes!

Contudo não podemos recuar.

Sabemos que cada um destes pequeninos, traz gravado em si o Rosto de um Filho de Deus. E que a nossa solidariedade e o sinal da Caridade cristã, deve chegar a cada um deles…”

sábado, 16 de novembro de 2024

 

10 Princípios poderosos que podem transformar sua forma de ver o mundo e te ajudar a viver melhor:-

1.   A morte não é a maior perda da vida. A maior perda é estar morto por dentro, enquanto ainda estamos vivos. Quando você vive sem sonhos, sem metas. Apenas existindo, não está realmente vivendo. Levante-se! Defina objetivos, sonhe grande e vá atrás do que faz seu coração bater mais forte.

2.   Cuide do seu corpo porque ele é o único lugar onde você vai morar por toda a vida. Se você não se cuidar, ninguém pode fazer isso por você! Então, comece hoje mesmo a se alimentar melhor, fazer exercícios e cuidar da sua mente. Seu corpo é a sua casa e cuidar bem dele é um ato de amor próprio.

3.   Aprenda a sair da mesa quando o respeito não estiver mais a ser servido. Não perca seu tempo com pessoas que te puxam para baixo, que desrespeitam ou que não acrescentam. Cerque-se de quem te incentiva, que te faz crescer, que quer ver você feliz. O tempo é precioso de mais para ser desperdiçado com o que não agrega.

4.   Você nunca é velho demais para definir uma nova meta ou sonhar um novo sonho. Não importa quantos anos você tenha, sempre há tempo para recomeçar, para seguir um novo caminho. O importante é nunca deixar de sonhar e de buscar algo que faça a sua vida valer a pena.

5.   O passado é um lugar de aprendizado, não de residência. Não viva preso ao que já passou, as mágoas ou arrependimento. Aprenda com as suas experiências, tire lições, mas siga em frente. A vida é movimento e olhar para trás por muito tempo pode te impedir de ver as novas oportunidades que estão bem diante de você.

6.   Gratidão é a chave para a verdadeira felicidade. Quanto mais você agradece, mais percebe o quanto já tem. A felicidade não está em ter tudo, mas em valorizar o que já conquistou. As pessoas que estão ao seu redor e as pequenas alegrias do dia a dia. Cultive a gratidão e a sua vida será transformada.

7.   O medo é um dos maiores ladrões de sonhos. Muitas vezes deixamos de agir por medo e falhar, de sermos julgados ou de não sermos suficientes. Mas a verdade é que o fracasso faz parte do caminho. Enfrente seus medos de frente, tome coragem e avance. Você vai perceber que o medo diminui a cada passo que você dá.

8.   As coisas mais valiosas da vida não podem ser compradas. O amor, a amizade, o tempo de qualidade com quem você ama. Esses são os verdadeiros tesouros da vida. Não gaste toda a sua energia em busca de bens materiais, mas sim em construir relacionamentos sólidos e viver momentos que tragam sentido à sua vida.

9.   Não compare sua vida com a de outras pessoas. Cada um de nós tem seu próprio caminho, com desafios e conquistas únicos. A comparação é a ladra da alegria. Foque em ser a melhor versão de você mesmo a cada dia, celebres suas vitórias e aprenda com seus erros. Sem se preocupar com o que os outros estão fazendo.

10.               Nunca subestime o poder da fé. A vida pode ser cheia de incertezas, mas quando você tem fé, encontra força para continuar mesmo nas adversidades. Acredite que apesar dos desafios, tudo está acontecendo por uma razão e que o melhor ainda está por vir. Se você se identificou com esta mensagem e quer mudar sua vida. Lembre-se que DEUS está ao seu lado em cada passo.

sábado, 5 de outubro de 2024



 O alinhamento dos poços nos terrenos das redondezas, deram-lhe uma ideia quanto ao local que lhe parecia melhor para abrir o poço. Esta era também a ideia do Ti Jarolmo, mestre que iria fazer o balseiro. Seria com toda a certeza a localização dalgum veio de água que os alimentava a todos e lhe daria a ele também a possibilidade de fazer com que o terreno produzisse mais fartura pra casa.

…o ano ia de feição para este trabalho. Muito seco, e o nível freático estava bem fundo, fato que permitiria levar o poço bem lá para baixo, pró quinto dos infernos.

Há dois dias juntaram-se seis valentes (Ti Manel, os dois filhos e os compadres!) e marcaram e fizeram a escavação, com a junta de bois, jungida pela canga e ligada por forte tirante ao rodo. Guiava os bois para a frente e para trás e o filho manobrava o rodo, arrastando-o para trás e garantindo que se mantinha em posição de rodar a areia, pela força dos bois, para o monte algo distante do local do poço, no sítio onde o ti Jarolmo marcou para que ali fosse construído o balseiro para o poço que queria viesse a dar água para regar o quintal que tanta fartura dava e onde a filha tinha construído a casa. E que bonita que ela estava!

A data do casamento aproximava-se e Ti Manel fazia questão que tudo estivesse perfeito para dar bom princípio de vida à filha e futuro genro. Até já tinha apalavrado uma junta de bezerros e uma vaca cheia para lhe meter no curral.

O compadre estava disposto a fazer-se brioso e estavam a dar-se muito bem.

Vezes sem conta disse à filha que apanhasse tino na cabeça. Que não se deixasse ir em lérias pois quem casa fora, ou engana ou é enganado. E ela, nesse aspeto, deu-lhe oividos. Honra acima de tudo. Honra e respeito pelos pais e seus conselhos. Estava muito satisfeito com a escolha acertada que a cachopa tinha feito.

E o compadre era da mesma opinião! Já tinham ido ao Samoical cortar três pinheiros barcais, cheios de cerne, e ido com eles á fábrica ao Cabeço, cortá-los como mandou o Jarolmo, mestre na arte de construir o balseiro e outras alfaias, nassairas para uma casa.

Era também ele quem iria construir um carro de bois, um de três rodas e um de mão para apetrechar a casa.

Era o monte de madeira que se via empilhado mesmo junto à escavação onde era para fazer o poço. Eram barrotes, tábuas, umas mais finas que outras, que aguardava as mãos do mestre para obrar o balseiro e, feito este, dar em afundá-lo e levá-lo à água, tão fundo quanto possível para que não faltasse o precioso liquido nos momentos fortes do verão e a seara se não ressentisse.


E o mestre Gadelha chegou. Bem cedo, munido da sua enchó, serra de mão, martelo e buaneiro para por os pregos, a primeira coisa que fez foi marcar o eixo do poço para começar a assentar a cambota que iria suportar depois toda a estrutura do balseiro, sobre o qual seria então assentes os adobes, quase dois mil que ali descansavam também à espera de serem agilmente assentados por mãos de mestre de obras, gente que sabia o que fazia.

Ti Manel, o compadre e os filhos prestaram-se a servir o ti Jarolmo, colocando-lhe á mão, o material que lhes ia pedindo.

Colocaram no fundo, muito próximo do meio exato do poço, uma burra para ser suporte da madeira a cortar à medida exata.

Ti Jarolmo começou por cortar algumas tábuas, das mais grossas, que achava compridas, para fazer a cambota, redondinha.

Passou depois, com lápis que tinha atrás da orelha, a fazer as marcações tendo em vista os cortes para a junção das tábuas.

Feito este anel, pediu bocados de tábua com meio metro de comprimento e enregou a prega-los de maneira a unir as tábuas inicialmente colocadas.

Feito este trabalho, deu início ao corte dos barrotes, com um metro de comprimento e cortes nas pontas em meia esquadria. Á medida que ia cortando, ia-os colocando, formando um “xis” assentes e pregados na cambota.

Este trabalho realizado, houve necessidade de fazer novo anel, também com tábuas grossas para, à semelhança do primeiro, assentar sobre os barrotes e fixá-lo convenientemente com pregos. O poço tinha quatro metros de diâmetro, certinho nas medidas, medindo fosse de que ponto fosse da cambota, conquanto que passasse sobre a estaca que assinalava o meio.

Estando feita esta roda gigante, o esqueleto do balseiro, Ti Jarolmo, começou a cortar tábuas, ligeiramente mais finas que as primeiras, com um metro de comprimento e, munindo-se da sua enchó deu em afiá-las numa das pontas, pregando-as depois aos aros, do lado de fora destes, com a parte afiada para baixo e a mais fina virada para dentro. Andou neste trabalho dia e meio… e o balseiro ficou pronto para se poder fazer o poço…”

"...no dia apalavrado, manhãzinha muito cedo, Ti Quintino aparece com a sua junta de bois, animais de porte e respeito, com uma carrada de paus de meda, roldanas, e gamelas de ferro, (umas bacias quase quadradas, com eixo, que serviriam para receber a areia no fundo do poço e transportá-la até ao cimo, ao ritmo do mandador e montaram as caçambas) e cabos/tirantes.

Questionou o Ti Manel acerca do ponto onde queria que a areia fosse amontoada e deu inicio à montagem do seu aparelho.

Um estrado de tábuas assentes em dois pinheiros fortes, estrado este que permitia o trabalho de um homem caminhando sobre ele e manobrando o pau da roldana por onde passava o cabo de aço que ia ao fundo com a gamela vazia e a trazia cheia de areia para cima.

Enquanto ti Quintino montava as caçambas, os bois, amarrados à roda do carro, iam comendo um feixe de palha para darem o litro quando tal fosse nassairo.

É que eram estes que tinham a incumbência de, num vai vem constante, para a frente e para traz, dar que fazer aos homens que andavam no fundo a cavar e encher as caçambas. Também já estavam habituados pois era esse o seu trabalho quase diário…

O pessoal ia chegando e Ti Manel ia pedindo aqueles que lhe pareciam mais rijos que fossem para o poço, formassem equipas para cada enxada (um ao olho outro ao cabo!) e dessem inicio a amontoar a terra no meio do poço. Assim formou cinco pares e mandou os filhos lá para baixo para, com enxadas e pás, encherem as caçambas, não dando parança aos bois.

Sobre o estrado, estava um homem jovem, rijo e fero como convinha, para rodar a vara guia com a gamela, tendo todo o cuidado para não magoar nenhum homem lá em baixo, nem cá em cima às mulheres que, munidas com enxadas, tinham por missão arredar para traz a areia que um outro homem descarregava, revirando a gamela, num frenesim constante.

Começou a sair areia branca e depositaram-na à parte. Logo ali se deu início ao amassar da cal e o mestre foi para cima do balseiro receber a cal amassada, espalhá-la convenientemente sobre o balseiro e depois assentar os adobes. É que assim tornava-se mais fácil fazer com que o mesmo se fosse enterrando e impedindo que a areia lateral fosse caindo para dentro do balseiro.

A água começou a aparecer aos dois metros de profundidade, um remijo muito pequeno, mas não havia barro nem palhão, sinal de que poderia ser um bom sítio de nascente. Não era esta água que ia dificultar o trabalho dos homens…

Quando deu o meio dia, Ti Manel deu ordens para todos subirem pois a Maria estava a chegar com a panela das sopas e havia necessidade de aproveitar o tempo para deixar o poço emparedado.

Ti Quintino libertou os bois do cabo que os ligava às caçambas e, mesmo com a canga no cachaço, foi pô-los à sombra, amarrados a um pinheiro e com um feixe de palha na frente. Era o seu almoço.

Assim se fez e, pouco tempo depois, todos estavam sentados na manta de retalhos e nas esteiras corridas, com um prato no regaço, comendo avidamente umas ricas sopas de feijão seco, masturado com batatas, coives e um punhado de arroz, cultivado nos alagamentos do Chão Velho, e uns nacos de toicinho do porco que mataram no S. Martinho.

Não faltou o garrafão do parreirol para animar e dar força aos braços…

Quando voltaram ao trabalho, iam mais animaditos pois o descanso durante o almoço soube-lhes mesmo bem.

Voltaram aos seus lugares e a faina voltou a acontecer. Ainda tiraram meia dúzia de gameladas de água para cima, mas mesmo essas também traziam areia.

Com cinco fiadas de adobes em cima do balseiro, a coisa começava a tomar forma de poço. A água agora fervilhava de todo o lado, para alegria do ti Manel. Não dava parança aos homens, nem Ti Quintino aos bois!

E assim andaram até perto das sete horas da tarde…”

“…e adaptou uma zorra à grade para, com os bois, achegar a areia para junto das paredes do poço. A restante seria carreada para as partes mais baixas da terra, tornando-a assim toda nivelada e melhor de trabalhar.

Agora urgia ir à cata de quem lhe fizesse um engenho em condições e lho prantasse no poço antes do verão do ano que vem. E assim fez. Falou com os amigos, num dia em que se encontravam a beber um copo na taberna, e concluiu que não seria má ideia falar com o Leonildo e apalavrar tal arte.

No dia seguinte deslocou-se, bem cedo, à oficina do Leonildo e falou com ele. Combinaram ir ao poço para tirar medidas. Acordaram que a corrente seria dupla, mais carote mas muito mais forte e segura. O poço tinha quatro metros de diâmetro e quase seis de fundo.

Era um poço em condições e tudo levava a crer que água nunca ali faltaria. Dava para ele e para os vizinhos que dela se quisessem servir, recebendo por esse fato uma eventual renda com que não contava!

Sabia sempre bem arrecadar duas ou três rasas de milho, a mais que o que cultivava em cada ano.

Leonildo, mestre na arte do ferro e latoaria, deu de imediato inicio à construção do engenho. Primeiro as rodas, horizontal e vertical. Indicou-lhe onde poderia ir arranjar duas vigas de ferro, carris de comboio uma com o comprimento de quatro metro e meio e outra com o comprimento de quatro metros.

Alertou-o também para que não esquecesse a passagem, em tubo largo e resistente, para ser pisada pelo gado e deixar passar a água da almace. Quanto às vigas, podia até transportá-las para tão perto do poço quanto possível, tinha lá bom espaço, e assim, não tinha depois continas para as movimentar para o local onde iriam ser aparelhadas e depois colocadas sobre as paredes do poço como convinha.

Ainda outubro não tinha acabado e já o Leonildo o avisou que estava o engenho pronto para ser colocado no poço, com corrente e tudo.

Ti Manel também já tinha no quintal os carris para o suporte do engenho!

Só faltava acabar de fazer os alcatruzes e a almaça.

Ti Manel apressou-se a falar e combinar com os filhos e mais alguns amigos, o momento em que iriam assentar as vigas nas paredes do poço. Aquilo era trabalho que requeria força para as movimentar e colocar no sítio. A mais comprida ficaria exatamente no diâmetro do poço (a parte mais larga deste, parede a parede!) e a outra ficaria a norte a uma distância de um metro da primeira.

Leonildo mandou-lhe um mancal duplo (horizontal e vertical, em simultâneo) e um simples para que o colocasse no meio da viga grande do poço. Ele depois fixá-lo-ia de modo a que recebesse as duas rodas do engenho, fixaria o paralelismo das vigas com uniões de ferro, que as não deixariam tombar nem reduzir ou aumentar a distancia entre si.

Passada uma semana, surge um poço com um engenho novinho em folha, todo pinchado como deve ser, faltando somente os alcatruzes e almace. Só lhe faltava mesmo um animal para por ao cambão!…”

 

domingo, 29 de setembro de 2024

 

Á mulher que, munida de cantara de barro caneca e prato de esmalte, vendia água nas feiras de Portomar e Mira, carregando-a á cabeça das fontes mais próximas do local da feira: Descanso, Canto de Riba, Meneza, Barrocas, Meio-alqueire, João Toito, Maceira, da Bica, e outras, apelidavam de aguadeira. Vendiam água “á canecada”!

Muita gente vai ainda hoje às fontes em causa abastecer-se, embora haja já abastecimento de água canalizada ao domicílio, para consumo em casa.

Vestia saia e blusa de chita, cinta preta, lenço de cachené, chapéu de pena, avental de popelina, algibeira para guardar o dinheiro, (sim, porque a água, antes de ser bebida, tinha que ser paga! Tostão cada canecada que ás vezes dava para matar ou amenizar a sede a três e quatro!) calçando chinelo de celeiro.

Usava ainda rodilha de trapos para transporte da cantara à cabeça, cantara de barro, prato e caneca de esmalte (o prato para tapar a cantara e a caneca para medir a água).

Quando se deslocava para a fonte, lavava a cantara à cabeça, mas deitada e o prato e a caneca na mão. Quando regressava da fonte, rodilha na cabeça, cantara colocada sobre a mesma, prato de esmalte tapando a cantara e caneca de esmalte de fundo ao ar, sobre o prato.

Raramente tinha necessidade de colocar a mão à cantara para a equilibrar. A prática era tanta que quase era desnecessária tal atitude.

Também foi homem que trabalhava de sol a sol nas “ Olarias “ do Carvalho (pertença do ti Aurélio Redondo, do Ti Arménio Rocha, do Ti João do Carvalho, do Ti Albano do Russo,...) locais onde se faziam os adobes (blocos maciços, feitos de uma mistura de seixos rolados, de tamanhos diferentes (areia grossa e gorda) com cal viva trazida por “ carreiros” (como o Ti Amândio Oliveira, numa junta de bois) do Barracão, local onde existiam os fornos que “ coziam” a dita cal, também denominada de “ cal flor”.

Eram usados para a construção da casa Gandaresa, de muros de vedação, de poços (com balseiro ou só com cambota).

Existem ainda vestígios dos “ poços” (vulgar e correntemente designados por covas de adobes) donde se extraía a areia em causa, “ à formiga” (Trabalho coordenado, feito quase sempre por homens, era duro, estes posicionavam-se por patamares, um ou dois em cada patamar, com níveis diferentes de altura, quase sempre em linha ascendente, começando aqueles que andavam no fundo da cova ou poço a “pazar” a areia para o patamar mais próximo, que se situava mais perto do fundo e deste patamar outro onde outros homens a passavam para o patamar seguinte, e assim sucessivamente até atingir a superfície. Chegavam a retirar a areia de profundidades da ordem dos seis a oito metros, em poços com diâmetro de cerca de trinta palmos (entre oito a dez metros de diâmetro)!

Chegou a vestir calção de cotim até ao joelho com bolso atrás, camisa de riscado, chapéu de palha, aba larga, lenço tabaqueiro ao pescoço (com o qual limpava o suor, mais que muito atendendo ao esforço e condições e local de trabalho:- “ óculos de sol”) e quando lhe calhava ter de ir queimar a cal e misturá-la com a areia, calçava botas feitas de câmaras de ar de rodas de camioneta, para proteger os pés e pernas dos efeitos da cal viva ou flor.

Recorda com muita lucidez as formas dos adobes (casa, muro, três quartas ou galgas) e a inseparável enxada de cem mil réis, além do carro de mão e da padiola para transporte da massa. A cada trabalhador, o patrão entregava um carro de mão, instrumento que ele tinha que ir mantendo nas melhores condições para dar o máximo rendimento, já que tinha no mínimo que acompanhar os colegas, não podendo deixar a sua “esteira” de adobes ficar atrás dos demais no final do dia. Conta até que usava de artimanhas para tentar ficar sempre com mais alguma massa no fim do dia: - era dos primeiros a tirar a massa, tirando pouca, para acabar de gastar a carga mais cedo e aí, sim, na segunda e terceiras voltas, carregar o carro “á molhelha” para poder render e ter de amassar menos que os outros. Mesmo no trabalho, já havia manhas e manhas!

Tanto a meio da manhã como a meio da tarde, os homens paravam alguns momentos para acomodar o estômago, comer um naco de broa e um rabo de sardinha assada, muitas vezes gelada, mas que sabia que era um primor.

A broa era cosida em casa, uma vez por semana, fornada que tinha que dar para os sete dias, não podendo ninguém da casa ser “desarrendado”.

Os moleiros ou moços dos donos dos moinhos, homem ou mulher, recolhiam o milho de casa em casa, levavam-no para o moinho onde era transformado em farinha pelas mós, movidas pela força do vento ou da água. Faziam entrega da farinha correspondente na semana seguinte, depois de ficar com a maquia, recolhendo novo taleigo de milho. Normalmente os sacos possuíam marcas próprias de cada proprietário, que eram do conhecimento do moleiro e/ou da moleira, sendo muito raro ocorrer a troca dos taleigos.

Utilizavam para o transporte dos sacos, um burro ou uma besta, com albarda, mais tarde um carro de boi ou vaca.

Tanto quanto há conhecimento, havia moinhos de vento e de água, nas Cabeças Verdes, pertencente ao ti Artur Capeloa e no Seixo, próximo do quintal de Joaquim Oliveira, de vento, pertencente ao ti Parrano (?), aos “Olívios” e, na Vala dos Almeidas, lá para os lados dos Sobrados, da Ti Luz do Carlos.

Neste trabalho, o moleiro vestia calça e colete de cotim, camisa de riscado, gorra ou bóina, cinta preta e lenço tabaqueiro ao pescoço, calçando botas de atanado, isto inicialmente, pois mais tarde, para poupar a roupa, usava calça e camisa de linho, branco, a farinha não se via tanto e não era necessário lavar tanto a roupa, poupando-se em tempo, sabão e no próprio tecido que durava muito mais!

Do traje fazia parte também um saco de linho para transporte da taleigada ou arrumo da maquia.

Instrumento que nunca abandonava o moinho era o picão para avivar as moentes e jazentes.

Se era criada ou moleira, vestia saia de fioco, avental de riscado, blusa de gorgorina, cinta preta, lenço de cachené e chapéu Gandarês, calçando tamancos, sem meias.

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