sábado, 16 de novembro de 2024

 

10 Princípios poderosos que podem transformar sua forma de ver o mundo e te ajudar a viver melhor:-

1.   A morte não é a maior perda da vida. A maior perda é estar morto por dentro, enquanto ainda estamos vivos. Quando você vive sem sonhos, sem metas. Apenas existindo, não está realmente vivendo. Levante-se! Defina objetivos, sonhe grande e vá atrás do que faz seu coração bater mais forte.

2.   Cuide do seu corpo porque ele é o único lugar onde você vai morar por toda a vida. Se você não se cuidar, ninguém pode fazer isso por você! Então, comece hoje mesmo a se alimentar melhor, fazer exercícios e cuidar da sua mente. Seu corpo é a sua casa e cuidar bem dele é um ato de amor próprio.

3.   Aprenda a sair da mesa quando o respeito não estiver mais a ser servido. Não perca seu tempo com pessoas que te puxam para baixo, que desrespeitam ou que não acrescentam. Cerque-se de quem te incentiva, que te faz crescer, que quer ver você feliz. O tempo é precioso de mais para ser desperdiçado com o que não agrega.

4.   Você nunca é velho demais para definir uma nova meta ou sonhar um novo sonho. Não importa quantos anos você tenha, sempre há tempo para recomeçar, para seguir um novo caminho. O importante é nunca deixar de sonhar e de buscar algo que faça a sua vida valer a pena.

5.   O passado é um lugar de aprendizado, não de residência. Não viva preso ao que já passou, as mágoas ou arrependimento. Aprenda com as suas experiências, tire lições, mas siga em frente. A vida é movimento e olhar para trás por muito tempo pode te impedir de ver as novas oportunidades que estão bem diante de você.

6.   Gratidão é a chave para a verdadeira felicidade. Quanto mais você agradece, mais percebe o quanto já tem. A felicidade não está em ter tudo, mas em valorizar o que já conquistou. As pessoas que estão ao seu redor e as pequenas alegrias do dia a dia. Cultive a gratidão e a sua vida será transformada.

7.   O medo é um dos maiores ladrões de sonhos. Muitas vezes deixamos de agir por medo e falhar, de sermos julgados ou de não sermos suficientes. Mas a verdade é que o fracasso faz parte do caminho. Enfrente seus medos de frente, tome coragem e avance. Você vai perceber que o medo diminui a cada passo que você dá.

8.   As coisas mais valiosas da vida não podem ser compradas. O amor, a amizade, o tempo de qualidade com quem você ama. Esses são os verdadeiros tesouros da vida. Não gaste toda a sua energia em busca de bens materiais, mas sim em construir relacionamentos sólidos e viver momentos que tragam sentido à sua vida.

9.   Não compare sua vida com a de outras pessoas. Cada um de nós tem seu próprio caminho, com desafios e conquistas únicos. A comparação é a ladra da alegria. Foque em ser a melhor versão de você mesmo a cada dia, celebres suas vitórias e aprenda com seus erros. Sem se preocupar com o que os outros estão fazendo.

10.               Nunca subestime o poder da fé. A vida pode ser cheia de incertezas, mas quando você tem fé, encontra força para continuar mesmo nas adversidades. Acredite que apesar dos desafios, tudo está acontecendo por uma razão e que o melhor ainda está por vir. Se você se identificou com esta mensagem e quer mudar sua vida. Lembre-se que DEUS está ao seu lado em cada passo.

sábado, 5 de outubro de 2024



 O alinhamento dos poços nos terrenos das redondezas, deram-lhe uma ideia quanto ao local que lhe parecia melhor para abrir o poço. Esta era também a ideia do Ti Jarolmo, mestre que iria fazer o balseiro. Seria com toda a certeza a localização dalgum veio de água que os alimentava a todos e lhe daria a ele também a possibilidade de fazer com que o terreno produzisse mais fartura pra casa.

…o ano ia de feição para este trabalho. Muito seco, e o nível freático estava bem fundo, fato que permitiria levar o poço bem lá para baixo, pró quinto dos infernos.

Há dois dias juntaram-se seis valentes (Ti Manel, os dois filhos e os compadres!) e marcaram e fizeram a escavação, com a junta de bois, jungida pela canga e ligada por forte tirante ao rodo. Guiava os bois para a frente e para trás e o filho manobrava o rodo, arrastando-o para trás e garantindo que se mantinha em posição de rodar a areia, pela força dos bois, para o monte algo distante do local do poço, no sítio onde o ti Jarolmo marcou para que ali fosse construído o balseiro para o poço que queria viesse a dar água para regar o quintal que tanta fartura dava e onde a filha tinha construído a casa. E que bonita que ela estava!

A data do casamento aproximava-se e Ti Manel fazia questão que tudo estivesse perfeito para dar bom princípio de vida à filha e futuro genro. Até já tinha apalavrado uma junta de bezerros e uma vaca cheia para lhe meter no curral.

O compadre estava disposto a fazer-se brioso e estavam a dar-se muito bem.

Vezes sem conta disse à filha que apanhasse tino na cabeça. Que não se deixasse ir em lérias pois quem casa fora, ou engana ou é enganado. E ela, nesse aspeto, deu-lhe oividos. Honra acima de tudo. Honra e respeito pelos pais e seus conselhos. Estava muito satisfeito com a escolha acertada que a cachopa tinha feito.

E o compadre era da mesma opinião! Já tinham ido ao Samoical cortar três pinheiros barcais, cheios de cerne, e ido com eles á fábrica ao Cabeço, cortá-los como mandou o Jarolmo, mestre na arte de construir o balseiro e outras alfaias, nassairas para uma casa.

Era também ele quem iria construir um carro de bois, um de três rodas e um de mão para apetrechar a casa.

Era o monte de madeira que se via empilhado mesmo junto à escavação onde era para fazer o poço. Eram barrotes, tábuas, umas mais finas que outras, que aguardava as mãos do mestre para obrar o balseiro e, feito este, dar em afundá-lo e levá-lo à água, tão fundo quanto possível para que não faltasse o precioso liquido nos momentos fortes do verão e a seara se não ressentisse.


E o mestre Gadelha chegou. Bem cedo, munido da sua enchó, serra de mão, martelo e buaneiro para por os pregos, a primeira coisa que fez foi marcar o eixo do poço para começar a assentar a cambota que iria suportar depois toda a estrutura do balseiro, sobre o qual seria então assentes os adobes, quase dois mil que ali descansavam também à espera de serem agilmente assentados por mãos de mestre de obras, gente que sabia o que fazia.

Ti Manel, o compadre e os filhos prestaram-se a servir o ti Jarolmo, colocando-lhe á mão, o material que lhes ia pedindo.

Colocaram no fundo, muito próximo do meio exato do poço, uma burra para ser suporte da madeira a cortar à medida exata.

Ti Jarolmo começou por cortar algumas tábuas, das mais grossas, que achava compridas, para fazer a cambota, redondinha.

Passou depois, com lápis que tinha atrás da orelha, a fazer as marcações tendo em vista os cortes para a junção das tábuas.

Feito este anel, pediu bocados de tábua com meio metro de comprimento e enregou a prega-los de maneira a unir as tábuas inicialmente colocadas.

Feito este trabalho, deu início ao corte dos barrotes, com um metro de comprimento e cortes nas pontas em meia esquadria. Á medida que ia cortando, ia-os colocando, formando um “xis” assentes e pregados na cambota.

Este trabalho realizado, houve necessidade de fazer novo anel, também com tábuas grossas para, à semelhança do primeiro, assentar sobre os barrotes e fixá-lo convenientemente com pregos. O poço tinha quatro metros de diâmetro, certinho nas medidas, medindo fosse de que ponto fosse da cambota, conquanto que passasse sobre a estaca que assinalava o meio.

Estando feita esta roda gigante, o esqueleto do balseiro, Ti Jarolmo, começou a cortar tábuas, ligeiramente mais finas que as primeiras, com um metro de comprimento e, munindo-se da sua enchó deu em afiá-las numa das pontas, pregando-as depois aos aros, do lado de fora destes, com a parte afiada para baixo e a mais fina virada para dentro. Andou neste trabalho dia e meio… e o balseiro ficou pronto para se poder fazer o poço…”

"...no dia apalavrado, manhãzinha muito cedo, Ti Quintino aparece com a sua junta de bois, animais de porte e respeito, com uma carrada de paus de meda, roldanas, e gamelas de ferro, (umas bacias quase quadradas, com eixo, que serviriam para receber a areia no fundo do poço e transportá-la até ao cimo, ao ritmo do mandador e montaram as caçambas) e cabos/tirantes.

Questionou o Ti Manel acerca do ponto onde queria que a areia fosse amontoada e deu inicio à montagem do seu aparelho.

Um estrado de tábuas assentes em dois pinheiros fortes, estrado este que permitia o trabalho de um homem caminhando sobre ele e manobrando o pau da roldana por onde passava o cabo de aço que ia ao fundo com a gamela vazia e a trazia cheia de areia para cima.

Enquanto ti Quintino montava as caçambas, os bois, amarrados à roda do carro, iam comendo um feixe de palha para darem o litro quando tal fosse nassairo.

É que eram estes que tinham a incumbência de, num vai vem constante, para a frente e para traz, dar que fazer aos homens que andavam no fundo a cavar e encher as caçambas. Também já estavam habituados pois era esse o seu trabalho quase diário…

O pessoal ia chegando e Ti Manel ia pedindo aqueles que lhe pareciam mais rijos que fossem para o poço, formassem equipas para cada enxada (um ao olho outro ao cabo!) e dessem inicio a amontoar a terra no meio do poço. Assim formou cinco pares e mandou os filhos lá para baixo para, com enxadas e pás, encherem as caçambas, não dando parança aos bois.

Sobre o estrado, estava um homem jovem, rijo e fero como convinha, para rodar a vara guia com a gamela, tendo todo o cuidado para não magoar nenhum homem lá em baixo, nem cá em cima às mulheres que, munidas com enxadas, tinham por missão arredar para traz a areia que um outro homem descarregava, revirando a gamela, num frenesim constante.

Começou a sair areia branca e depositaram-na à parte. Logo ali se deu início ao amassar da cal e o mestre foi para cima do balseiro receber a cal amassada, espalhá-la convenientemente sobre o balseiro e depois assentar os adobes. É que assim tornava-se mais fácil fazer com que o mesmo se fosse enterrando e impedindo que a areia lateral fosse caindo para dentro do balseiro.

A água começou a aparecer aos dois metros de profundidade, um remijo muito pequeno, mas não havia barro nem palhão, sinal de que poderia ser um bom sítio de nascente. Não era esta água que ia dificultar o trabalho dos homens…

Quando deu o meio dia, Ti Manel deu ordens para todos subirem pois a Maria estava a chegar com a panela das sopas e havia necessidade de aproveitar o tempo para deixar o poço emparedado.

Ti Quintino libertou os bois do cabo que os ligava às caçambas e, mesmo com a canga no cachaço, foi pô-los à sombra, amarrados a um pinheiro e com um feixe de palha na frente. Era o seu almoço.

Assim se fez e, pouco tempo depois, todos estavam sentados na manta de retalhos e nas esteiras corridas, com um prato no regaço, comendo avidamente umas ricas sopas de feijão seco, masturado com batatas, coives e um punhado de arroz, cultivado nos alagamentos do Chão Velho, e uns nacos de toicinho do porco que mataram no S. Martinho.

Não faltou o garrafão do parreirol para animar e dar força aos braços…

Quando voltaram ao trabalho, iam mais animaditos pois o descanso durante o almoço soube-lhes mesmo bem.

Voltaram aos seus lugares e a faina voltou a acontecer. Ainda tiraram meia dúzia de gameladas de água para cima, mas mesmo essas também traziam areia.

Com cinco fiadas de adobes em cima do balseiro, a coisa começava a tomar forma de poço. A água agora fervilhava de todo o lado, para alegria do ti Manel. Não dava parança aos homens, nem Ti Quintino aos bois!

E assim andaram até perto das sete horas da tarde…”

“…e adaptou uma zorra à grade para, com os bois, achegar a areia para junto das paredes do poço. A restante seria carreada para as partes mais baixas da terra, tornando-a assim toda nivelada e melhor de trabalhar.

Agora urgia ir à cata de quem lhe fizesse um engenho em condições e lho prantasse no poço antes do verão do ano que vem. E assim fez. Falou com os amigos, num dia em que se encontravam a beber um copo na taberna, e concluiu que não seria má ideia falar com o Leonildo e apalavrar tal arte.

No dia seguinte deslocou-se, bem cedo, à oficina do Leonildo e falou com ele. Combinaram ir ao poço para tirar medidas. Acordaram que a corrente seria dupla, mais carote mas muito mais forte e segura. O poço tinha quatro metros de diâmetro e quase seis de fundo.

Era um poço em condições e tudo levava a crer que água nunca ali faltaria. Dava para ele e para os vizinhos que dela se quisessem servir, recebendo por esse fato uma eventual renda com que não contava!

Sabia sempre bem arrecadar duas ou três rasas de milho, a mais que o que cultivava em cada ano.

Leonildo, mestre na arte do ferro e latoaria, deu de imediato inicio à construção do engenho. Primeiro as rodas, horizontal e vertical. Indicou-lhe onde poderia ir arranjar duas vigas de ferro, carris de comboio uma com o comprimento de quatro metro e meio e outra com o comprimento de quatro metros.

Alertou-o também para que não esquecesse a passagem, em tubo largo e resistente, para ser pisada pelo gado e deixar passar a água da almace. Quanto às vigas, podia até transportá-las para tão perto do poço quanto possível, tinha lá bom espaço, e assim, não tinha depois continas para as movimentar para o local onde iriam ser aparelhadas e depois colocadas sobre as paredes do poço como convinha.

Ainda outubro não tinha acabado e já o Leonildo o avisou que estava o engenho pronto para ser colocado no poço, com corrente e tudo.

Ti Manel também já tinha no quintal os carris para o suporte do engenho!

Só faltava acabar de fazer os alcatruzes e a almaça.

Ti Manel apressou-se a falar e combinar com os filhos e mais alguns amigos, o momento em que iriam assentar as vigas nas paredes do poço. Aquilo era trabalho que requeria força para as movimentar e colocar no sítio. A mais comprida ficaria exatamente no diâmetro do poço (a parte mais larga deste, parede a parede!) e a outra ficaria a norte a uma distância de um metro da primeira.

Leonildo mandou-lhe um mancal duplo (horizontal e vertical, em simultâneo) e um simples para que o colocasse no meio da viga grande do poço. Ele depois fixá-lo-ia de modo a que recebesse as duas rodas do engenho, fixaria o paralelismo das vigas com uniões de ferro, que as não deixariam tombar nem reduzir ou aumentar a distancia entre si.

Passada uma semana, surge um poço com um engenho novinho em folha, todo pinchado como deve ser, faltando somente os alcatruzes e almace. Só lhe faltava mesmo um animal para por ao cambão!…”

 

domingo, 29 de setembro de 2024

 

Á mulher que, munida de cantara de barro caneca e prato de esmalte, vendia água nas feiras de Portomar e Mira, carregando-a á cabeça das fontes mais próximas do local da feira: Descanso, Canto de Riba, Meneza, Barrocas, Meio-alqueire, João Toito, Maceira, da Bica, e outras, apelidavam de aguadeira. Vendiam água “á canecada”!

Muita gente vai ainda hoje às fontes em causa abastecer-se, embora haja já abastecimento de água canalizada ao domicílio, para consumo em casa.

Vestia saia e blusa de chita, cinta preta, lenço de cachené, chapéu de pena, avental de popelina, algibeira para guardar o dinheiro, (sim, porque a água, antes de ser bebida, tinha que ser paga! Tostão cada canecada que ás vezes dava para matar ou amenizar a sede a três e quatro!) calçando chinelo de celeiro.

Usava ainda rodilha de trapos para transporte da cantara à cabeça, cantara de barro, prato e caneca de esmalte (o prato para tapar a cantara e a caneca para medir a água).

Quando se deslocava para a fonte, lavava a cantara à cabeça, mas deitada e o prato e a caneca na mão. Quando regressava da fonte, rodilha na cabeça, cantara colocada sobre a mesma, prato de esmalte tapando a cantara e caneca de esmalte de fundo ao ar, sobre o prato.

Raramente tinha necessidade de colocar a mão à cantara para a equilibrar. A prática era tanta que quase era desnecessária tal atitude.

Também foi homem que trabalhava de sol a sol nas “ Olarias “ do Carvalho (pertença do ti Aurélio Redondo, do Ti Arménio Rocha, do Ti João do Carvalho, do Ti Albano do Russo,...) locais onde se faziam os adobes (blocos maciços, feitos de uma mistura de seixos rolados, de tamanhos diferentes (areia grossa e gorda) com cal viva trazida por “ carreiros” (como o Ti Amândio Oliveira, numa junta de bois) do Barracão, local onde existiam os fornos que “ coziam” a dita cal, também denominada de “ cal flor”.

Eram usados para a construção da casa Gandaresa, de muros de vedação, de poços (com balseiro ou só com cambota).

Existem ainda vestígios dos “ poços” (vulgar e correntemente designados por covas de adobes) donde se extraía a areia em causa, “ à formiga” (Trabalho coordenado, feito quase sempre por homens, era duro, estes posicionavam-se por patamares, um ou dois em cada patamar, com níveis diferentes de altura, quase sempre em linha ascendente, começando aqueles que andavam no fundo da cova ou poço a “pazar” a areia para o patamar mais próximo, que se situava mais perto do fundo e deste patamar outro onde outros homens a passavam para o patamar seguinte, e assim sucessivamente até atingir a superfície. Chegavam a retirar a areia de profundidades da ordem dos seis a oito metros, em poços com diâmetro de cerca de trinta palmos (entre oito a dez metros de diâmetro)!

Chegou a vestir calção de cotim até ao joelho com bolso atrás, camisa de riscado, chapéu de palha, aba larga, lenço tabaqueiro ao pescoço (com o qual limpava o suor, mais que muito atendendo ao esforço e condições e local de trabalho:- “ óculos de sol”) e quando lhe calhava ter de ir queimar a cal e misturá-la com a areia, calçava botas feitas de câmaras de ar de rodas de camioneta, para proteger os pés e pernas dos efeitos da cal viva ou flor.

Recorda com muita lucidez as formas dos adobes (casa, muro, três quartas ou galgas) e a inseparável enxada de cem mil réis, além do carro de mão e da padiola para transporte da massa. A cada trabalhador, o patrão entregava um carro de mão, instrumento que ele tinha que ir mantendo nas melhores condições para dar o máximo rendimento, já que tinha no mínimo que acompanhar os colegas, não podendo deixar a sua “esteira” de adobes ficar atrás dos demais no final do dia. Conta até que usava de artimanhas para tentar ficar sempre com mais alguma massa no fim do dia: - era dos primeiros a tirar a massa, tirando pouca, para acabar de gastar a carga mais cedo e aí, sim, na segunda e terceiras voltas, carregar o carro “á molhelha” para poder render e ter de amassar menos que os outros. Mesmo no trabalho, já havia manhas e manhas!

Tanto a meio da manhã como a meio da tarde, os homens paravam alguns momentos para acomodar o estômago, comer um naco de broa e um rabo de sardinha assada, muitas vezes gelada, mas que sabia que era um primor.

A broa era cosida em casa, uma vez por semana, fornada que tinha que dar para os sete dias, não podendo ninguém da casa ser “desarrendado”.

Os moleiros ou moços dos donos dos moinhos, homem ou mulher, recolhiam o milho de casa em casa, levavam-no para o moinho onde era transformado em farinha pelas mós, movidas pela força do vento ou da água. Faziam entrega da farinha correspondente na semana seguinte, depois de ficar com a maquia, recolhendo novo taleigo de milho. Normalmente os sacos possuíam marcas próprias de cada proprietário, que eram do conhecimento do moleiro e/ou da moleira, sendo muito raro ocorrer a troca dos taleigos.

Utilizavam para o transporte dos sacos, um burro ou uma besta, com albarda, mais tarde um carro de boi ou vaca.

Tanto quanto há conhecimento, havia moinhos de vento e de água, nas Cabeças Verdes, pertencente ao ti Artur Capeloa e no Seixo, próximo do quintal de Joaquim Oliveira, de vento, pertencente ao ti Parrano (?), aos “Olívios” e, na Vala dos Almeidas, lá para os lados dos Sobrados, da Ti Luz do Carlos.

Neste trabalho, o moleiro vestia calça e colete de cotim, camisa de riscado, gorra ou bóina, cinta preta e lenço tabaqueiro ao pescoço, calçando botas de atanado, isto inicialmente, pois mais tarde, para poupar a roupa, usava calça e camisa de linho, branco, a farinha não se via tanto e não era necessário lavar tanto a roupa, poupando-se em tempo, sabão e no próprio tecido que durava muito mais!

Do traje fazia parte também um saco de linho para transporte da taleigada ou arrumo da maquia.

Instrumento que nunca abandonava o moinho era o picão para avivar as moentes e jazentes.

Se era criada ou moleira, vestia saia de fioco, avental de riscado, blusa de gorgorina, cinta preta, lenço de cachené e chapéu Gandarês, calçando tamancos, sem meias.

...

terça-feira, 17 de setembro de 2024

 

…/… ..., “mas hoje temos de ir ao fojo, tirar as carapitas ao milho, pois a espiga já está formada e a palha é nassaira para alimentar o gado”.

Tirar as carapitas! E eu que estava tão bem na cama! Mas quem me mandou andar até ás tantas no S. Tomé? Arre! Mas... tem que ser.


E lá fui!

Porque faltava regar dois traveses junto ao poço, tirei a “loira” do carro e levei-a para junto do poço. Logo se pôs em marcha até ao cambão e ali ficou até que lho colocasse no cachaço, unisse as apiaças ao mesmo, lhas passasse pelos cornos e aplicasse a brocha que, unida aos cangalhos do cambão, iria eventualmente impedir que este levantasse e a impedisse de fazer rodar o engenho que havia de, numa monotonia constante, através dos alcatruzes, transportar a água até á almace para depois regar o milho.

Enquanto ele guiava a água, regadeira após regadeira, a mãe deu início á quebra das carapitas, bandeiras do milho, que serviram para a polinização do mesmo e agora iriam servir de alimento á “loira” e ás bezerras que tinham ficado no curral.

Que mestria e certeza no golpe para partir a palha! A mão direita, aberta, agarrava a carapita de forma a que “os nozes” dos dedos, na união com a mão, tocassem na espiga. Fechava a mão de forma a que o dedo “mindinho” ficasse imediatamente acima do primeiro nó de ligação da mencionada parte da palha. Com um gesto firme, seguro e seco, inclinava-a para o lado diametralmente oposto á espiga e ouvia-se um “toc” seco ficando separada a carapita do pé do milho e lá vinha esta, qual bandeira no ar, encontrar-se com outras que já haviam sido depositadas sobre o ombro esquerdo e eram seguras pelo mesmo braço. Assim de fazia até juntar trinta e cinco, quarenta carapitas, formar uma boa gabela e, com muito jeito, transportá-la até ao carro da vaca, depositá-la ali e voltar ao mesmo sítio, e voltar a fazer o mesmo.

Quando se chegava lá mais para o fim da terra, para fazer render o tempo, as gabelas eram depositadas da estrema, separadas, sempre com a palha “ugada”, para depois serem juntas, colocadas sobre uma corda, fazer um feixe que era colocado á cabeça e transportado para o carro para depois ir parar a casa.

Depois de regar os traveses que faltavam, tirou a vaca do engenho e amarrou-a á roda do carro. Tirou-lhe o cofinho, depois o taipal do carro que estava do lado dela e colocou-lhe uma gabela de carapitas no estrado para que ela se alimentasse, facto a que não se fez rogada.

Tentou então ajudar a mãe na faina de tirar as carapitas ao milho para mais cedo irem para casa. Mas que jeito lhe faltava!

Ainda não tinha uma dúzia de bandeiras no ombro e já sangrava do dedo mindinho por golpe provocado pela palha devido á falta de “ciência” no golpe para a partir e separar do pé de milho!

 Mas não deu parte de fraco. Sempre que uma carapita dobrava e não a conseguia partir á primeira...

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

 



ETERNIDADE

Quando os meus filhos

Disserem aos meus netos

O quanto eu os amo/amava…

E quando os meus netos

Disserem aos meus filhos

Que guardam lembranças minhas

E de mim sentem saudade…

Não terei morrido nunca:

Serei eternidade!


domingo, 21 de julho de 2024

 

NA GÂNDARA…

A pior solidão é aquela que nos ausenta de nós mesmos.

Ø  Sou do tempo...

Que se beijava as mãos dos pais, Avós, madrinha e padrinho pedindo a bênção;

·         Sou do tempo...

Que tarefa dada era tarefa cumprida;

·         Sou do tempo...

Que acordava cedo para ir a igreja rezar;

·         Sou do tempo...

Que o lar era o local respeitoso e harmonioso;

·         Sou do tempo...

Que se rezava na ceia;

·         Sou do tempo...

Que se respeitava uma mesa farta, onde não existiam sobras, porque a comida era sagrada, (a dedicação da mãe em prepará-la; não se podia jogar o amor fora e nem chamar de restos o alimento);

·         Sou do tempo...

Que se respeitava o ser humano, os idosos, acima de tudo, a quem chamávamos de pessoas mais experientes;

·         Sou do tempo...

Das travessuras, das surras; isso não deixa ninguém revoltado, simplesmente era punido e pedia perdão;


Hoje o tempo ultrapassou-nos e já não sabemos quem somos!

A casa dos avós é um abrigo de sentimentos bons, onde tem comida quentinha, travessuras e muito amor.

Onde o amor expande sorrisos a todo instante, onde Deus se faz Gigante, pois as orações dos avós valem mais que diamante.

Avós criam memórias, eternizam momentos! Seu sorriso, é a reação das travessuras, os seus braços abrigam os melhores abraços!

Seu amor é gigante que nem dá pra medir, somente sentir.

Avós, como descreve-los?

Avós são,

·         Um pedacinho do céu na terra com sabedoria, amor e ternura. 

·         Anjos que Deus colocou em nossas vidas para nos guiar e proteger.

·         Aquelas pessoas que te fazem sentir único perante as outras pessoas, que te fazem sentir como se fosses o individuo mais importante na vida.

·         Aquelas pessoas que tem o melhor abraço do mundo, que fazem a melhor comida da face da terra!

·         Aquelas pessoas que, quando não queres conversar com ninguém elas te aparecem colocam a mão na tua cabeça, e dizem-te que vais superar e elas vão estar ao teu lado!

·         Aquela pessoa que te agrada, te ama, te ajuda, te motiva, te influencia, te anima, te muda, te consola!

·         Um presente de Deus, para quem viveu com sabedoria.
Quem convive com os Avós, é certo que sabe mais que o resto.

Quando somos crianças, achamos que o melhor lugar do mundo é na casa dos nossos avós. E quando nos tornamos adultos, continuamos a achar a mesma coisa!

Os nossos Avós nos completam, amamo-los sem medida!
Avós e Avôs nasceram para completar nossa vida, para substituir todo o mal do mundo!

Avô e Avó guardam no olhar e na pele as marcas de toda uma vida. Guardam em si uma infinidade de conhecimentos que nos transmitem, é com eles que aprendemos.

Aprenderam a lidar com as "feridas" de uma forma admirável. Dão-se intensamente em cada dia... devolver-lhes o amor é o mínimo que podemos fazer.

Quando jovem não tinha tempo para meus pais, mas amava muito meus avós.

Quando velho, meus filhos não tem tempo para mim…
mas sou amado pelos meus netos.

Nossos bisavós disseram a nossos avós que deveriam respeitar a natureza, os mais velhos e o próximo;

Nossos avós disseram a nossos pais que deveriam respeitar a natureza, os mais velhos e o próximo;

Nossos pais nos disseram que devemos respeitar a natureza, os mais velhos e o próximo;

Mas…
Não respeitamos a natureza, os mais velhos nem o próximo!
Onde erramos nós?

A resposta é simples: faltou ensinarem-nos o que realmente quer dizer a palavra respeito.

Queridos avô e avó, as palavras não são suficientes para expressar a imensa gratidão que sentimos por vocês.

Cada história compartilhada, cada gesto de carinho, cada apoio incondicional tem sido o nosso refúgio e nossa inspiração.

A cada momento passado ao vosso lado, sentimo-nos enriquecidos pela vossa sabedoria e vosso amor incondicional.

Obrigado por serem os avós incríveis que são, por serem faróis em nossas vidas, guiando-nos com vosso exemplo.

Saibam que o nosso coração transborda com um amor profundo e eterno por vocês.

Vocês são um presente precioso na nossa jornada neste Mundo!

Continuai a dar-nos abraços repletos de carinho e acolhimento.

A nossa meta é um dia ser como vocês!

Obrigada por nos ensinarem tanto sobre a vida e cuidarem tanto de nós.

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