sábado, 1 de novembro de 2025

 Por falar na Gândara...

Ti Manuel parou. Com ar de cismador entranhado pela idade, fala pausadamente e diz-me: Mas tu queres mesmo que eu te conte o sonho que tive? Calou-se e, como eu fiquei boquiaberto olhando-o nos olhos, disse-me com simplicidade:

Abriu-se a Arca do Tempo!

Uma chieira persistente, enquanto o movimento de rotação sobre os gonzos se fazia sentir, incomodava-me finamente a audição, um misto de sons agudos e graves, desconcertados, fazia-se ouvir e suspeitar do conteúdo pelo muito tempo passado desde que a abri pela última vez…

Era o meu segredo!

Pela fina frincha, entre a tampa e a borda da caixa, saiu de imediato um enorme espaço, volúvel, como que um bálsamo inebriante que gostosamente me envolveu e transportou através do tempo, para tempos imemoriáveis, dando-me uma sensação de prazer indelével, que gostosamente abracei e, de sorriso sublime, nele embarquei…

Surgiu-me, ao longe, um SOTÃO DE MEMÓRIAS.

Sabes, aquele espaço por cima da casa da arrumação e do pátio, com frestas entre as tábuas, sítio onde o sentimento se expande, onde o dar é antagónico, onde o saber se desenvolve e dilata, onde a troca é possível e desejável.

Toma atenção que é condição básica e necessária, para utilização e usufruto daquele sítio, a necessidade de partilhar e trocar conhecimentos!

Na Gândara tudo trocamos! Batatas por fruta, influências por trabalho, tempo por tempo, trabalho por trabalho, saberes por sabores, sorrisos por sorrisos, amizade por nada, e, no fim, quando nos dispomos a dar desinteressadamente, verificamos que recebemos muito mais do que o que demos e saímos mais ricos do que entrámos!…

Ali estava saliente o orgulho na minha origem! Naquele tempo, não havia rico nem pobre. Todos eram remediados. Alguns mais bafejados pela sorte que outros é certo. Estes outros, de sorriso mais pronto e espontâneo, eram os que menos se incomodavam com os bens materiais, mas trabalhavam de sol a sol para que o pão nosso de cada dia lhes bastasse, a eles e aos familiares!

A genuinidade está por todo o lado. Riqueza sublime, conhecimento profundo da realidade e forma de vida.

Todos, mas todos mesmo, vibravam com os acontecimentos inusitados que afetavam cada um e todos os elementos que integravam o grupo/sociedade de que faziam parte.

Respeitavam-se mutuamente! Uniam-se em torno de projetos e objetivos comuns. Criaram “róis” para acudir na desgraça. Era a sua forma de garantir ajuda e apoio. Alcançavam a felicidade lutando e construindo pontes, assentes em sólidos muros que todos utilizavam para ir mais além rumo á felicidade e deixando, á passagem, desbravados caminhos para simplificar e facilitar a passagem aos vindouros…

Eram solidários do nascer ao morrer!

Não havia acontecimento, por mais discreto que fosse, que não alegrasse ou entristecesse toda a Comunidade. Olha que eu tenho histórias… e calou-se mais uma vez, absorto em pensamentos felizes, tal era o seu semblante. Fiquei parado e ele continuou o caminho, íamos agora no Carreiro da Fonte, aquela estrema entre terras, a par com a caleira de água construída em adobes pelo Silvério, mesmo perto da Fonte da Meneza. Ali me sentei até que ouvi o chamamento: Então? Ficas? E lá me fui no seu encalce. Chegados á Fonte, ali nos sentámos e a conversa continuou.

Como te disse no meu tempo era-se solidário do nascer ao morrer. Todos os acontecimentos eram motivo para coisas sérias! Manifestações de carinho e apoio eram uma constante. Olha que ninguém passava por ninguém que o não saudasse, fosse a que horas fosse do dia, conhecesse-se ou não! Os desejos de paz e alegria não custavam nada a dar e agradavam muito a quem os recebia! Não fui educado para andar de mal com ninguém, nem eu nem os do meu tempo!

Se andávamos sempre alegres, bem,… fazíamos por isso

17JAN17

… Foge-me a inspiração. Isto de estar algum tempo parado emperra toda a engrenagem e o mais fácil vem ao de cima: não fazer nada, nem pensar!

Matuto, matuto e, nada me ocorre que possa prantar no papel para dar a conhecer ou relembrar.

Tanta coisa que ainda não abordei e tenho a cabeça oca, vazia de ideias e quase de pensamentos, memórias mais velhas que se evadiram, eclipsando-se. Arrumadas nalgum canto com certeza até serem movimentadas e fluírem como dantes…

…DesCristianizamo-nos com facilidade! Tu vais ver que daqui a vinte ou trinta anos, aqueles que agora engrossam os grupos da 2ª visita começam a sair da terra e nem “a porta à Cruz abrem”. Não é porque não tenham vontade, não. O que lhes falta é coragem para arrepiar caminho e ser mais moderados, contendo-se mais com as aparências que agora ostentam.

Mas que é bonito, lá isso é. Olha que a alegria é contagiante. Noutros tempos a algazarra provinha dos gritos da criançada a ver quem mais amêndoas apanhava, daquelas que, o Ti Justino, quando se “alembrava”, atirava á pelagem nas salas, na rua onde havia crianças… Como uma mão pequena, escassamente cheia de amêndoas (Amêndoas? Amendoins descascados e recobertos com açúcar!) Mas até isso se perdeu. Ainda não consegui perceber se foi por incapacidade económica, se porque deixaram de fazer o produto, se… por falta de vontade de alguém, o que se sabe é que, nós, algo mais responsáveis, assinamos de cruz com muita facilidade, aceitamos e seguimos os exemplos. É isso mesmo que estás a pensar…

15DEZ18

…e não quero nada. O pensamento foge-me, vagueia no infinito e nem rasto deixa. Assalta-me a necessidade de criação da Unidade de Socorro do Seixo: “US do Seixo”. E para que fim? Quem pode integrá-lo e que missões irá desempenhar? Prevenir? Aprender? Sonhar? Saber? Executar? Batalhar? Ensinar? Mitigar!

E começam as críticas a surgir. É claro que sabíamos o risco que corríamos. Mas também é claro que, se fosse de outra forma… aconteceu de forma diferente! E… fizemos o que devíamos, o que estava ao nosso alcance e… fizemos bem.

17SET18

Um som contínuo e algo agressivo faz-se ouvir incomodativamente. É a máquina a mover a água para o sistema de rega das culturas. Sentado no trator, de frente para a aspersão, descansa o corpo e a mente ocupa-se em busca e ordenamento de ideias para registar no papel.

Muita coisa me passa pela cabeça. Começo a querer acreditar que já não sou assim tão novo como julgo, tendo em conta os ditos dos que comigo contracenam nesta labuta. Mas o meu espírito não se sente cansado e nem a vontade me ordena que baixe os braços. Quero manter-me ativo, corpo e mente, para a luta contra “o alemão”. Estou em crer que, se lhe não der guarida voluntariamente, á força também se não instalará neste sítio, o meu corpo. Gosto do trabalho, seja ele qual for. Nasci para isso e acredito piamente que, quem como eu nasceu para trabalhar, nunca passa faltas mas também não vai arranjar Fortuna.

Não te recrimines pelo que não fizeste! Assume o facto.

É oportuno e dá para corrigir? Não olhes para trás. Fá-lo e…repensa atitudes!

Recordações são alicerces firmes do futuro se o presente neles se fortalecer e as valorizar!

Os Gandareses são admirados, íntegros e de bom coração! Possuem ética e admiração. Tendo vidas efémeras, deixam obras eternas.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

 ...

Passou das boas o nosso ti Manel! Além de alfaiate e lavrador, num rasgo de ousadia e devido à necessidade de angariação de mais uns tostões para sustento da prole, deixou as terras e durante a época da faina, irmanou- se na pesca da sardinha e carapau nas Xávegas da Praia de Mira. O barco (em terra um monstro, no mar, uma casca de nós franzina!) com quatro remos, saía para o mar com quarenta homens, arrastado por quatro juntas de bois. O restante pessoal da companha, pessoal de terra, enorme quantidade de homens, músculos das pernas retesos, empurrando e dando a sua ajuda para a maré exata, no momento certo que a onda dá, bois com água pelo peito, mansos, comungando a mesma paixão dos homens, associando- se ás suas dores e necessidades, deixando uma ponta da corda, (qual cordão umbilical que os une á terra mãe, mesmo quando se encontram em pleno ventre do oceano bravio) puxarem e empurrarem, fazendo deslizar o barco sobre os rolos de madeira, assentes sobre varas do mesmo material, para impedir que o barco se enterre nas areias soltas e torne mais difícil o deslize, até que os remos comecem a tomar conta do barco e, de forma rápida e segura, passem além da quebra da onda, a chamada “cabeça” local de maior perigo tanto no sair, como no arribar. Já no alto mar, lançam o saco da rede, em nome de Deus, completam o cerco e, sempre largando a manga e posteriormente o varal da corda, regressa a terra, entregando-a aos homens que ali se encontram e lhe atrelam de imediato as juntas de Bois, doze juntas por cada Companha, (grupo de homens necessários para, tanto em terra como no mar, unidos, desempenharem as funções inerentes á pesca tradicional apelidada de Arte de Xávega), seis em cada corda, que, dolente, contínua e firmemente, arrastam a rede com um andamento certo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

 ...

Como te disse, no meu tempo era-se solidário do nascer ao morrer. Todos os acontecimentos eram motivo para coisas sérias!

 “Hádes oibir a mnha Maria pra quela te fale acerca do nacimento do nosso mais belho!

Começou logo a nascer-me água na boca!

Guardei religiosamente a ideia para que, logo que surgisse a primeira oportunidade, abordar a ti Ana.

Manifestações de carinho e apoio eram uma constante. Olha que ninguém passava por ninguém que o não saudasse, fosse a que horas fosse do dia, conhecesse-se ou não! Os desejos de paz e alegria não custavam nada a dar e agradavam muito a quem os recebia! Não fui educado para andar de mal com ninguém, nem eu nem os do meu tempo!

Se andávamos sempre alegres, bem,… fazíamos por isso…

… e o dia e momento aprazaram-se!

“… Ora viva ti Ana. Como vai vosmecê? Venho só com o a intenção de falar consigo, ou melhor, oibir de si, o relato do nascimento do seu mais belho. Se vosmecê tivesse tempo e quisesse, era uma grande favor e alegria que me fazia e dava.”

“-Ai home tens cada uma, como queres tu queu me lembre do que se passou já lá vão mais de setenta anos? Mas tábem, tu mereces respeito e tamain nunca mo negaste!

Olha começo por dizer-te que foi uma aventura e peras. Nunca em tal me tinha visto! Era o mê premeiro filho e eu, com vinte e três anos, mal tinha oibido falar de andar prenha ou de pariduras. Isso não era assunto de conversas que se tvessem de calquer maneira e com calquer um. Até me parece que era considerado pecado falar em tais conversas Olha logo nos princípios andei munto injoada, gometaba tudo o que comia, não aguentaba comida denhuma no bucho… mas ópios a coisa foi andando e compôs-se, a barriga foi crescendo de tal maneira que cheguei a pensar que arrebentaba, até me custaba a dobrar para agarrar  calquer coisa do chão. Timbe que deixar de usar corpete, apertaba-me munto as mamas e até me fazia doer os bicos.

Até que um dia, à noitinha, estaba eu a dar as boltas e a fazer uma fogueira no borralho, debaixo da trempe, pra por a panela ó lume com auga pa labar os pés e comecei cum dores no fundo da barriga e a modos que a sentir aúga a escorrer plas pernas abaixo.

Que saria aquilo?

A principio não dei munta importância, mas comecei a preocupar-me. O mê Manel não estaba em casa e ê fuim chamar a minha vizinha, a ti Dosões, que esteve a falar comigo, biu comeu estava, mandou o filho a correr chamar a Ti Maria Manhas, e foi pá cozinha cmigo.

Lá me preguntou onde é queu tinha uns panos labados e ê mandei-a procurar na arca da roipa que estaba no corredor, ópois pediu uma tesoira e linhas e trouxe tudo pra cima da mesa.

Ê staba de boca aberta cachopinho, mas já sentia dores munto fortes debaixo da barriga.

Foi cando a ti Dosões me disse quê staba para parir!

De repente entra pela porta adentro a ti Maria, esbaforida, munto aflita a chamar pla Dosões. Falou um pouco com ela e ê dei um grito, encostei-me ó pião da chmné e, pus as mãos abertas por baixo das saias no meio das pernas! Elas correram logo para mim, a ti Dosões agarrou-me pelos ombros e deitou-me em cima dma manta de retalhos quê tinha no chão da cozinha e a ti Maria arregaçô-me a saia e mandô-me abrir as pernas!

Caredo! Que aflição! E que dores em sentia! Dei em berrar ao morto e só me alembro da ti Maria dizer bem alto que, cando foi pó fazer, ê num tinha berrado assim, não.

Lá me contibe e relhei os dentes para não se oibirem os gritos! Poico tempo depois, a ti Maria trazia nas mãos um latagão, bermelhusco, cum cordão agarrado à barriga e ó tripado quê tinha no meio das pernas, e prantou-mo em cima dos peitos.

Era um rapazão!

Ê num sabia se habia de chorar se de rir. A ti Maria foi buscar a tesoira, fez lá mas medidas, deu dois nós com a linha no cordão do menino e cortou-o entre os nós.

Entretanto a ti Dosões já tinha ido buscar ma labadeira, onde tinha posto auga temperada e a ti Maria deu-lhe a criança  pa ela labar. Ela assim fez e deu o menino outra vez à ti Maria. Ela agarrou-o plos pés, pindurou-o e deu-lhe umas palmaditas no rabo.

Inrregou logo a berrar o mê menino!

Temos gente, disse a ti Maria e a ti Dosões riu-se pra mim.

Lá lhe puseram mercúrio na invide, enrolaram-lhe uma faixa de tecido, feita de um lençol, à volta da barriga e embrulharam-no munto bem num cobertor. Nem as mãos lhe deixaram à solta.

Ópois a ti Maria lá se birou pra mim, tirou-me do meio das pernas o tripado ensanguentado que ali estava e labou-me munto bem por baixo. Tamain me pôs mercúrio para desinfetar, disse ela.

Com jeito, algum tempo depois, lá me levaram para a cama, deitaram-me e mandaram-me desapertar o chambre e o corpete e fcar cas mamas à mostra. Trouxeram a criança e encostaram-lhe a boca a uma.

Num te cuides munto sel não mamar, se tu nã tveres leite.

Se for nassairo manda-se chamar a Ti Palmira do Baltazar quela já tem os filhos criados mas continua a dar leite pra quem é nassairo.

E não é que o pequenote começou logo a fazer pla bida? Aquilo é que era lindo bê-lo agarrado à mama e xuxar com tanta força…que queres que te conte mais? Foi assim que nasceu o mê Manel, que beio a fcar com o nome do pai, e dos avós, que eram os dois Manéis…

(Saliento que os termos utilizados na descrição tentam replicar a pronuncia das palavras usadas na descrição! É propositado!)

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

 

já lá estava a Ti Hermínia e a Ti Cina da Noca, sentadas na pedra junto ao portão do Ti Artur Capeloa, no Largo do Zé Velho. 

Á sua frente tinha o cesto de vime e dentro deste uma sacada de tremoços que ia vendendo. Medida a medida, a tostão, dois tostões, cinto tostões, tudo dependendo do tamanho dos bolsos das calças (para os mais novos) e do lenço das cachopas.

Também aproveitei a maré e pedi que me desse dois tostões deles. “E onde os levas tu?” Questionou ela de imediato. “Deite aqui no bolso”, respondi-lhe, ajeitando logo e com ambas as mãos o bolso lateral que tinha nas calças, mais propriamente na perneira direita. Daquele lado dava mais jeito. Mas a medida não coube só naquele bolso. “Não faz mal”, respondi. “Ponha o resto no outro”, repetindo os movimentos e trocando simplesmente as mãos para facilitar o cair os tremoços sem os desperdiçar.

Por dois tostões, comprei tremoços que deram para roer uma tarde inteira…

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

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Também foi homem que trabalhava de sol a sol nas “ Olarias “ do Carvalho (pertença do ti Aurélio Redondo, do Ti Arménio Rocha, do Ti João do Carvalho, do Ti Albano do Russo,...) locais onde se faziam os adobes (blocos maciços, feitos de uma mistura de seixos rolados, de tamanhos diferentes (areia grossa e gorda) com cal viva trazida por “ carreiros” (como o Ti Amândio Oliveira, numa junta de bois) do Barracão, local onde existiam os fornos que “ coziam” a dita cal, também denominada de “ cal flor”.

Eram usados para a construção da casa Gandaresa, de muros de vedação, de poços (com balseiro ou só com cambota).

Existem ainda vestígios dos “ poços” (vulgar e correntemente designados por covas de adobes) donde se extraía a areia em causa, “ à formiga” (Trabalho coordenado, feito quase sempre por homens, era duro, estes posicionavam-se por patamares, um ou dois em cada patamar, com níveis diferentes de altura, quase sempre em linha ascendente, começando aqueles que andavam no fundo da cova ou poço a “pazar” a areia para o patamar mais próximo, que se situava mais perto do fundo e deste patamar outro onde outros homens a passavam para o patamar seguinte, e assim sucessivamente até atingir a superfície. Chegavam a retirar a areia de profundidades da ordem dos seis a oito metros, em poços com diâmetro de cerca de trinta palmos (entre oito a dez metros de diâmetro)!

Chegou a vestir calção de cotim até ao joelho com bolso atrás, camisa de riscado, chapéu de palha, aba larga, lenço tabaqueiro ao pescoço (com o qual limpava o suor, mais que muito atendendo ao esforço e condições e local de trabalho:- “ óculos de sol”) e quando lhe calhava ter de ir queimar a cal e misturá-la com a areia, calçava botas feitas de câmaras de ar de rodas de camioneta, para proteger os pés e pernas dos efeitos da cal viva ou flor.

Recorda com muita lucidez as formas dos adobes (casa, muro, três quartas ou galgas) e a inseparável enxada de cem mil réis, além do carro de mão e da padiola para transporte da massa. A cada trabalhador, o patrão entregava um carro de mão, instrumento que ele tinha que ir mantendo nas melhores condições para dar o máximo rendimento, já que tinha no mínimo que acompanhar os colegas, não podendo deixar a sua “esteira” de adobes ficar atrás dos demais no final do dia. Conta até que usava de artimanhas para tentar ficar sempre com mais alguma massa no fim do dia: - era dos primeiros a tirar a massa, tirando pouca, para acabar de gastar a carga mais cedo e aí, sim, na segunda e terceiras voltas, carregar o carro “á molhelha” para poder render e ter de amassar menos que os outros. Mesmo no trabalho, já havia manhas e manhas!

Tanto a meio da manhã como a meio da tarde, os homens paravam alguns momentos para acomodar o estômago, comer um naco de broa e um rabo de sardinha assada, muitas vezes gelada, mas que sabia que era um primor.

A broa era cozida em casa, uma vez por semana, fornada que tinha que dar para os sete dias, não podendo ninguém da casa ser “desarrendado”.

Os moleiros ou moços dos donos dos moinhos, homem ou mulher, recolhiam o milho de casa em casa, levavam-no para o moinho onde era transformado em farinha pelas mós, movidas pela força do vento ou da água. Faziam entrega da farinha correspondente na semana seguinte, depois de ficar com a maquia, recolhendo novo taleigo de milho. Normalmente os sacos possuíam marcas próprias de cada proprietário, que eram do conhecimento do moleiro e/ou da moleira, sendo muito raro ocorrer a troca dos taleigos.

Utilizavam para o transporte dos sacos, um burro ou uma besta, com albarda, mais tarde um carro de boi ou vaca.

Tanto quanto há conhecimento, havia moinhos de vento e de água, nas Cabeças Verdes, pertencente ao ti Artur Capeloa e no Seixo, próximo do quintal de Joaquim Oliveira, de vento, pertencente ao ti Parrano (?), aos “Olívios” e, na Vala dos Almeidas, lá para os lados dos Sobrados, da Ti Luz do Carlos.

Neste trabalho, o moleiro vestia calça e colete de cotim, camisa de riscado, gorra ou bóina, cinta preta e lenço tabaqueiro ao pescoço, calçando botas de atanado, isto inicialmente, pois mais tarde, para poupar a roupa, usava calça e camisa de linho, branco, a farinha não se via tanto e não era necessário lavar tanto a roupa, poupando-se em tempo, sabão e no próprio tecido que durava muito mais!

Do traje fazia parte também um saco de linho para transporte da taleigada ou arrumo da maquia.

Instrumento que nunca abandonava o moinho era o picão para avivar as moentes e jazentes.

Se era criada ou moleira, vestia saia de fioco, avental de riscado, blusa de gorgorina, cinta preta, lenço de cachené e chapéu Gandarês, calçando tamancos, sem meias.

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terça-feira, 8 de julho de 2025

 ... está o milho com altura bastante e mesmo a pedir para ser desbastado e “achegado” e abertas as regadeiras, pois o verão já se adivinha e, desta terra, terá que sair o sustento para um ano de toda a casa. Uma das caixas leva sessenta alqueires e a outra, embora mais pequena, precisa de quarenta e oito para ficar cheia. O milho está amarelito, queira Deus que não apanhe arejo e tudo se há-de arranjar, pois logo na primeira rega vamos “botar-lhe o buano” apropriado e ele dará o salto. Mas, vamos lá abrir as regadeiras.

Primeiro e á frente de todos, arranca alguém a desbastar os pés de milho: torna-se além de útil, necessário fazer uma escolha dos melhores pés de milho, deixá-los ficar e protegê-los, arrancando os mais próximos para que não impeçam ou dificultem o seu crescimento. Assim cada pé de milho terá as condições próximas do ideal para produzir o máximo de espigas e o melhor grão. Temos também que arrancar as ervas daninhas que se encontram próximo do pé de milho: erva vime, castanhol, figueiras do inferno, etc. Nada pode dificultar ou impedir o seu livre, espontâneo e desejado crescimento. De imediato, vamos deitar o “buano” de maneira que possa ser tapado pela terra que vai ser movimentada no “achegar o milho”.
No trabalho de realizar as regadeiras, é preciso ter cuidado para que a enxada nem corte as raízes do milho, nem o moleste demasiado, colocando-lhe, no entanto, a terra junto do pé para lhe garantir mais segurança no crescimento e depois suportar melhor quer os ventos, quer o peso da palha e das espigas, que se espera e deseja que sejam muitas e graúdas…
Entre carreira e carreira de milho, passará a pessoa que, de enxada nas mãos dando-lhe uma ligeira inclinação alternadamente para um lado e para o outro, andando “ás arrecuas”, vai puxando a terra de modo a fazer um rego largo e relativamente fundo, movimentando as areias e, desta forma, arrancando as ervas daninhas que nasceram entre as carreiras dos pés de milho. Os cômoros que inicialmente foram feitos pelo arado quando se fizeram os regos para a sementeira, passam agora a ser os sítios por onde se vai encaminhar a água para a rega do milho: as regadeiras.
Cada regadeira tem entre cinco a seis metros de comprimento. A um conjunto de regadeiras com este comprimento e na totalidade da largura da terra semeada dá-se o nome de um través.
Sensivelmente a meio da largura terra, far-se-á uma regadeira com valados mais altos e reforçados, desde o poço e até ao fim da terra de milho. (bastas são as vezes que esta regadeira serve também para encaminhar a água que, tirada do mesmo poço e pelo mesmo modo, irá regar outras terras de milho situadas no topo da terra onde o poço se situa) Vai designar-se de “cavalo” e por ela escorrerá a água saída da “almace”, que por sua vez a recebe dos alcatruzes, parte integrante do engenho que, movido pelo andamento constante de um animal bovino, de trabalho, boi ou vaca, ligado a este pelo cambão, ali roda horas a fio, dias sem conta, com os alcatruzes numa volta infindável, de baixa, mergulha, volta e trás, constantemente água para a almace e desta para o tubo de passagem, saindo depois para o inicio do cavalo onde, mãos e pés de criança desfazem “lavam as agulhas e mato, impregnados com dejetos dos bois e vacas, esterco dos currais” ou barro, para que o cavalo nas suas paredes ganhe um lodo fixo que impeça ou dificulte a penetração da água e consequente perda desta no terreno. Quantas vezes imediatamente depois de sair da escola, se agarrava no “cesto e nas trolhas” e se ia no encalço dos rodados de carros de bois ou de vacas na esperança de encontrar “bosteiras” para usar na rega ou acumular sobre montes de agulha e produzir fertilizante ecológico, assim se chama… era a empreitada deixadas às crianças: tens de juntar duas ou três cestadas, por dia!...

quarta-feira, 2 de julho de 2025

 

Houve tempo para embarcar numa viagem, curta, ao passado! Andei por Vale Matança, Varrozelha, Murta e por Beja, integrando os Ranchos do Ti Domingos Lopes e do Ti Joaquim Artilheiro, do Ti João Maria Doca (Estive com eles na roça e arrozais do José Marcelino até que lhes faltou a farinha!) fui ás olarias, e por lá vi andar o Ti Aurélio Redondo, o Ti Arménio Rocha, o Ti Albano do Russo, o Ti João do Carvalho… Fui depois até ao Judeu dos Olivios no Alto das Fontes e dei por mim em amena cavaqueira com o Ti Manel, mesmo junto á réplica do Judeu colocado na Rua dos Moliceiros, logo ali, ao lado do Centro Social Paroquial e ao Parque de Merendas de S. João.

Que gratas imagens guardo da euforia da “entronização” do judeu, do seu transporte desde o local do fabrico, da construção em adobe da sua base, do bonito que ele ali ficou e do ar de graça que davam as suas velas enfunadas pelo vento que as fazia mover quando soprava dos lados da Barra!

Que orgulho manifestava o Ti Daniel olhando para a obra feita e que descrições fazia daquilo que se recordava dos tempos de então. A que amigáveis discussões assisti, contendas entre familiares, acerca da necessidade de ver corrigidos alguns pormenores no feitio do moinho em causa. As partes lá teriam a sua razão, mas falavam de coisas diferentes … mas que era bonito, lá isso era. Por fora, além de moinho (sim porque no seu interior nada havia!) era para quem o observava um veículo que nos transportava no tempo e permitia uma volta pelos lugares mais próximos do Seixo, em romaria aos sítios onde outrora estiveram em actividade moinhos (de água e de vento) e azenhas. Para aqueles eram carregados os taleigos de milho que eram recuperados na Sexta-feira á noite ou no sábado de manhãzinha, tendo em vista a fornada que se faria ao sábado á noite e que teria que dar para a semana inteira. Mais recentemente já assistíamos á recolha dos taleigos, porta a porta, em carro puxado por um boi, por gentes que moíam nos moinhos do Casal de S Tomé ou outros existentes ao longo da Veia Real (Moinhos do Arraial, Moinhos da Areia, Moinhos da Lagoa, Moinhos do Praina, Moinhos da Fazendeira…), curso de água que, com origem nos Olhos da Fervença, encaminhava aquele líquido até ao nosso braço da Ria de Aveiro. Chegados ao Moinho, descarregavam os sacos (taleigos) com o milho a um canto do moinho, e voltavam a carregar o carro do boi com os taleigos das pessoas que moravam na volta que iriam dar no dia seguinte, descontada que estava a maquia, para pagamento do seu trabalho. E o ritmo diário era sempre o mesmo, alterando simplesmente os locais de passagem para servir um maior número de interessados.

“Mas voltemos ao nosso Judeu. A força do vento e os efeitos do tempo que não pára, vão roibando a resistência aos materiais que corporizam o dito monumento e fazendo com ele aparente estar velho. Por duas vezes já os seus efeitos se fizeram sentir fortemente. Da primeira vez, as velas rotas e abandonadas, foram substituídas e recolocadas e alguns dias houve em que a vida voltou àquele espaço com o vento que ali se fez sentir sobre elas, mesmo girando em sentido inverso àquele que deveria girar (calhando união dos baraços á espia e madeira contrária ao que deveria ser, digo eu, leigo na matéria!). Mais recentemente, estou em crer que pelos mesmos motivos e com a mesma origem (as forças da natureza e o tempo que corre…) apareceu partido o eixo, suporte das velas, e caído junto ao corpo do moinho, qual membro decepado dum corpo indefeso e sem proteção, ali ficando durante alguns dias até que alguém o retirou e fez transportar para local onde vai, concerteza, ser recuperado e posteriormente reposto. Aproveitando a acção contínua e incontida dos elementos da natureza, alguém, mesmo por cima da fechadura, e dado que a madeira da porta é pouco resistente, abriu um óculo, para observação do interior do moinho. Chegou a falar-se em utilizar aquele espaço para efectivar uma exposição fotográfica relacionada com o ciclo do milho, do trigo, do centeio, da cevada… e tantos outros cereais outrora cultivados nos terrenos agrícolas que circundam o Seixo, pelas suas gentes … (Enganei-me! o Judeu, foi-se!)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

 

MATANÇA DO PORCO.


A matança do porco – pretexto para a reunião da família, dos amigos e vizinhos e motivo para os repastos conjuntos, onde a fartura da carne não impede o vinho de ser rei.

A matança do porco pode ir até inícios de Fevereiro – começa no S. Martinho (11 de novembro!), sempre de madrugada – beneficiando do tempo mais frio e a constituir, na grande parte das aldeias portuguesas, uma das mais tradicionais celebrações familiares rurais.

Ocasião festiva e acontecimento que se reveste de particular importância do ponto de vista económico, uma vez que as carnes, os enchidos, o toucinho e a banha representam alimentos fundamentais da família ao longo do ano, a matança do porco encontra-se associada a algumas maneiras e rituais mantidos até hoje no seio da comunidade rural.

Em certas localidades, antes do porco cevado ser agarrado, continua a observar-se o hábito, dos donos do porco, oferecerem a quem toma parte na matança figos secos, vinho e aguardente.

Laçado por uma perna, ainda no curral, o animal é trazido, em alta gritaria e com esforço dos “seus algozes” até junto do carro da vaca ou dos bois, previamente preparado sem taipais e só com um fogueiro num dos cantos do arrecavém.

Por vezes e dado o peso do animal e a eventual pouca força dos presentes, só homens (as mulheres ocupavam-se das lides da cozinha e só apareciam para trabalhar quando o animal estivesse já morto, chamuscado, lavado e pendurado, pronto a ser esventrado de tripas) era usada uma panca que, passando por baixo da barriga do porco e assentando no varal do carro/carroça) manobrada com destreza por um forte e afoito, de repente, dava a volta ao porco e este aparecia em cima do carro, sendo então necessário saltar-lhe para riba para que não se levantasse e pudesse ser colocado, com as pernas para o arrecavém, do carro, amarrado ao fogueiro, e o focinho amarrado com outra corda a um dos varais.

A mão de baixo pertencia ao matador segurá-la e coloca-la de maneira a que não falhasse a facada. A de cima era segura por um homem, fero e rijo, que se colocava por detrás do porco, lhe dobrava a outra mão e o impedia de se movimentar, de modo a poder ser sangrado.

O sangue do animal, o primeiro que sai do corte da faca, foi recolhido num alguidar de barro vermelho e retirado para local seguro e sossegado para coalhar, não sem que antes disso o matador lhe fizesse um corte em cruz.

Todo o restante, o que sai ainda até que o porco deixe de ter vida, é recolhido noutra bacia ou tacho a que se adicionou já cebola, sal, alho, vinagre e, ou vinho e vai-se mexendo sempre com uma colher de pau para não coalhar, só parando esta operação quando o sangue se encontra completamente frio.

Porco morto, nova pinga prá goela!

Depois é jogado abaixo do carro, mesmo na estrumeira, dando-se então início ao chamuscar do bicho.

São carregadas agulhas secas e enxutas para perto do porco. Foi já feita uma tenaz com duas varas de pinheiro para movimentar as mãos cheias de agulhas, acesas, que percorrerão todo o corpo do animal queimando-lhe todos os pelos. Já trabalha a pá do forno raspando a cinza e negro que se vai acumulando para ver se é necessário aproximar mais fogo ou seguir em frente.

Dois homens encarregam-se de queimar e arrancar as unhas ás patas do porco.

Todo chamuscado dum dos Lados, é hora de virar!

Mas, se há uns que querem virar, outros há que não deixam e só vira depois de haver nova rodada de mata-bicho!

Foram trazidas duas telhas salgadeiras para colocar, uma sobre a mão outra sobre a perna, que fica por baixo, para que o fogo as não queime.

E recomeça o trabalho da chamusca!

Chamusca efetuada, é arranjado um espaço mais limpo alguma coisa para colocar o porco e o lavar. É preciso uma telha salgadeira, uns torrões de adobes e sal. Tudo isto para lavar o corpo, as patas e as orelhas do animal.

Animal lavado convenientemente é colocado de pernas e mãos para o ar, é descoberto o tendão nas patas traseiras, junto ao joelho, e por ali é enfiado o chambaril.

As patas são mantidas abertas, separadas uma da outra, para facilitar o trabalho que vem a seguir.

Organiza-se depois o cortejo em direção à cozinha ou à casa da arrumação, com o porco sobre sacos e pegando os homens uns de cada lado para atrás da porta, onde foi   passada uma corda, próximo da parede, pelo barrote, para assim pendurar o porco.

Pendurado pelo «chambaril» (um pau curvo e duro) que se lhe enfiava nos «jarretes», parte posterior da articulação do joelho das pernas traseiras do animal), na casa de arrumação ou na cozinha do lume, de cabeça para baixo, tarefa nem sempre fácil a que alguns dos presentes ainda se opunham gritando bem alto que «se o mata bicho não vem, o porco não sobe!

Nessa posição é aberto pela barriga, um corte de cada lado sendo-lhe retirada em primeiro lugar a tira de gordura, peituga e carne da facada, com febra no interior que vai de entre as pernas traseiras até à parte inferior do pescoço e cobertura da queixada. De seguida são retiradas as tripas (vísceras e intestinos) (miudezas) que são entregues às mulheres e colocadas sobre uma mesa onde o matador e estas se vão encarregar de separar as tripas (intestinos) retirando-lhe o máximo de gorduras para depois serem levadas à vala, com água corrente, para as lavar convenientemente virar o interior para fora e cortar em tamanhos que permitam, depois de tratadas, ser cheias com carne (chouriças) ou com sangue e as gorduras arrancadas das tripas.

O toucinho ou entremeada encontra-se agarrado, de lado, às costelas e aos lombos. Assim arranjado o porco, este é borrifado com vinagre, por causa das moscas e embrulhado com lençóis velhos, ficando assim até ao outro dia de manhãzinha.

O porco fica assim pendurado para escorrer e arrefecer.

De manhãzinha, estende-se uma coberta de trapos ou sacos de sisal sobre o chão da divisão onde o porco ficou pendurado altura em que a carne é «desmanchada», separando-se as «peças» destinadas ao fumeiro (chouriças e morcelas) e as que vão ser guardadas no caixão (salgadeira!), conservadas no sal.

As primeiras a sair eram o toucinho, carne branca, sem febra, com a altura de quatro ou cinco dedos (ou mais!) que serviriam para adubar as sopas ou fazer quinhões para molhar as batatas abertas ao meio…

Lembrar ainda que, algumas peças do porco, as mais gulapeiras, já não chegavam a entrar no caixão, eram dadas ao Sr. Dr., ao Sr. Prior, a algum vizinho mais chegado…e assim começava o porco a desaparecer do caixão sem nunca lá ter entrado!

Ah, o Stº António também tinha um quinhão: como era o protetor dos animais, calhava-lhe sempre um pezunhito…

 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

 

…pouco passava das seis horas e meia da manhã e já se ouvia o baque surdo que saía pelo telhado do espaço daquela casa, que tudo indicava que fosse a cozinha. Sabia e conheci muito bem quem lá vivia, mas nunca me atrevi a ir “bisbilhotar” a origem daquele ruído e efeitos que se pretendiam.

Nesse dia, acordei um pouco mais cedo e fiquei a fazer tempo para ouvir os baques que tanto ansiava,

Pouco tardou.

Pelas frinchas das telhas marselha que cobriam o espaço, colocadas diretamente sobre as ripas e sem qualquer forro, surgiu uma ténue luz, muito amarelada, tremeluzindo e dando vida ao espaço em causa.

Sai de minha casa, percorri o caminho que me separava da casa para onde me dirigia e, sem anúncios, abri o portão, que normalmente estava destrancado, para permitir a entrada franca a todo e qualquer um que ali se dirigisse.

Estava aberta a porta da cozinha, situada ao lado do curral das vacas, existindo entre as duas divisões, um telheiro que albergava o forno onde se cozia a broa, todos os sábados.

E lá estava ele! Sentado num banquito de madeira, tamancos calçados nos pés, pernas abertas, e sobre a grelha de ferro uma panela de folha, para cozinhar aos porcos e uma cafeteira com água para ferver e fazer o café.

Sob a grelha ardia já uma pinha e, Ti Manel, com uma enchó na mão direita e um rachão na mão esquerda, ia dando machadadas naquele para fazer aparas, transformando-o em pedaços mais pequenos e atiçar mais rapidamente a fogueira, debaixo da panela e da cafeteira. A Maria já andava pelos currais a tratar do gado miúdo, aguardando que ele a chamasse para tomar o café. Tinha á sua beira também um grafado de trancas e gravetos e, encostado ao canto do borralho, uma gabela de agulhas para acender o lume e o forno, mais logo à tarde para cozer a broa para a semana.

Fogueira bem acesa, água colocada na cafeteira, colocou-a junto à panela que se encontrava já cheia de batatas, couves, abóbora cortada aos bocados e água, afim de que esta recebesse também o calor necessário para que a água fervesse e pudesse juntar-lhe uma colherada de pó, de café do bom, que mal caía na água, logo exalava um cheirinho que se espalhava por toda a casa.

Chamou pela Maria, que já tinha feito as camas ao gado graúdo e tinha-lhe posto na “majadoira” um grafado de “carapitas”, a que as vacas e a bezerra se atiraram logo.

Levou a lavagem para a pia dos porcos, pôs-lhe umas engaçadas de agulhas nas camas, cortou-lhe meia dúzia de beterrabas, colocando-lhas na pia, e dirigiu-se à casa da arrumação donde tirou meio crivo de milho da caixa, e levou para a cerca das galinhas.

Aproveitou os sete ovos que estavam no ninheiro e foi ter com o seu homem para tomar o café e chamar os filhos para que se arranjassem e fossem para a escola.

A Maria iria com o taleigo á cabeça, cerca de uma arroba de milho amarelo, ao moinho do ti Artur, afim de o trocar por fina farinha e assim poderem cozer a broa, à noite…

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 

Os Sinais são avisos...quem os despreza hoje poderá chorar amanhã.

(Quando virem um ramo de figueira tornar- se verdejante e as folhas a aparecerem, sabei que o verão está próximo...)

É assim que hoje somos, pela Palavra, alertados a estarmos atentos, porque por eles, percebemos e sentimos a presença de Deus na nossa vida.

Sabemos que nada deste mundo, e ele próprio, é eterno.

Sabemos também que não está nas nossas mãos o dia, a hora ou modo do nosso fim, bem como o fim do mundo.

Apocalipse, não significa o fim, na sua origem grega queria dizer mudança, alteração substancial.

É para essa alteração que devemos estar sempre preparados.

A linguagem do Evangelho é, apenas e só para nos lembrar que Deus continua e continuará próximo de nós e que a s Sua Palavra não perde valor.

Aconteceu recentemente (comemorado?!) o Vlll Dia dos Pobres.

Limito-me somente a reproduzir palavras do Papa Francisco, na sua Mensagem:

“A violência causada pelas guerras mostra claramente quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis.

Quantos novos pobres produz esta má política das Armas, quantas vítimas inocentes!

Contudo não podemos recuar.

Sabemos que cada um destes pequeninos, traz gravado em si o Rosto de um Filho de Deus. E que a nossa solidariedade e o sinal da Caridade cristã, deve chegar a cada um deles…”

sábado, 16 de novembro de 2024

 

10 Princípios poderosos que podem transformar sua forma de ver o mundo e te ajudar a viver melhor:-

1.   A morte não é a maior perda da vida. A maior perda é estar morto por dentro, enquanto ainda estamos vivos. Quando você vive sem sonhos, sem metas. Apenas existindo, não está realmente vivendo. Levante-se! Defina objetivos, sonhe grande e vá atrás do que faz seu coração bater mais forte.

2.   Cuide do seu corpo porque ele é o único lugar onde você vai morar por toda a vida. Se você não se cuidar, ninguém pode fazer isso por você! Então, comece hoje mesmo a se alimentar melhor, fazer exercícios e cuidar da sua mente. Seu corpo é a sua casa e cuidar bem dele é um ato de amor próprio.

3.   Aprenda a sair da mesa quando o respeito não estiver mais a ser servido. Não perca seu tempo com pessoas que te puxam para baixo, que desrespeitam ou que não acrescentam. Cerque-se de quem te incentiva, que te faz crescer, que quer ver você feliz. O tempo é precioso de mais para ser desperdiçado com o que não agrega.

4.   Você nunca é velho demais para definir uma nova meta ou sonhar um novo sonho. Não importa quantos anos você tenha, sempre há tempo para recomeçar, para seguir um novo caminho. O importante é nunca deixar de sonhar e de buscar algo que faça a sua vida valer a pena.

5.   O passado é um lugar de aprendizado, não de residência. Não viva preso ao que já passou, as mágoas ou arrependimento. Aprenda com as suas experiências, tire lições, mas siga em frente. A vida é movimento e olhar para trás por muito tempo pode te impedir de ver as novas oportunidades que estão bem diante de você.

6.   Gratidão é a chave para a verdadeira felicidade. Quanto mais você agradece, mais percebe o quanto já tem. A felicidade não está em ter tudo, mas em valorizar o que já conquistou. As pessoas que estão ao seu redor e as pequenas alegrias do dia a dia. Cultive a gratidão e a sua vida será transformada.

7.   O medo é um dos maiores ladrões de sonhos. Muitas vezes deixamos de agir por medo e falhar, de sermos julgados ou de não sermos suficientes. Mas a verdade é que o fracasso faz parte do caminho. Enfrente seus medos de frente, tome coragem e avance. Você vai perceber que o medo diminui a cada passo que você dá.

8.   As coisas mais valiosas da vida não podem ser compradas. O amor, a amizade, o tempo de qualidade com quem você ama. Esses são os verdadeiros tesouros da vida. Não gaste toda a sua energia em busca de bens materiais, mas sim em construir relacionamentos sólidos e viver momentos que tragam sentido à sua vida.

9.   Não compare sua vida com a de outras pessoas. Cada um de nós tem seu próprio caminho, com desafios e conquistas únicos. A comparação é a ladra da alegria. Foque em ser a melhor versão de você mesmo a cada dia, celebres suas vitórias e aprenda com seus erros. Sem se preocupar com o que os outros estão fazendo.

10.               Nunca subestime o poder da fé. A vida pode ser cheia de incertezas, mas quando você tem fé, encontra força para continuar mesmo nas adversidades. Acredite que apesar dos desafios, tudo está acontecendo por uma razão e que o melhor ainda está por vir. Se você se identificou com esta mensagem e quer mudar sua vida. Lembre-se que DEUS está ao seu lado em cada passo.

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